quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

"Não te deixes seduzir pelo gosto da conversa fútil e improdutiva. Essa microscópica gente não merece a mais pequena atenção, nem tu precisas de espectadores para o salutar e cansativo exercício diário de falar por falar. Fala contigo mesmo, comunica com as paredes, com a estratosfera. Não deixes que metam o nariz na tua vida. Caso contrário, vais ficar cheio de gente, com a sua vida escassamente interessante, a tornar ainda mais milagreiros os acontecimentos criativos e realmente sentidos, como um todo pleno, que tens ocasionalmente, longe deles... E tenho a impressão de que, no essencial, a vida vulgar continua a mesma, mesmo calado. Desunha-te a escrever mas fá-lo com a discrição e a reserva de quem não se dá às primeiras. Conta a tua história à tua própria folha." Frank Green, "Diaporese"

4 comentários:

marta disse...

Da conversa mais fútil e improdutiva pode sair uma excelente história. Uma dessas histórias que depois dão bons livros... Acredito que as mais sublimes obras da literatura foram construidas sobre vidas banais observadas da mesa de um café. Podemos desunhar-nos a escrever. Sem pontes com os outros será sempre uma escrita estéril.

José disse...

Cara Marta:
Não creio que Frank Green nege a importância que tem o convivo e a temática fugaz na alheia mesa de café. É certo que já as teve incontáveis vezes para escrever o que escreveu. Suponho que apenas tenta demonstrar o quão patético e desprovido de valor pode ser um qualquer debate sem debate, onde nada se teoriza. Como quem, hipotéticamente falando, bebe um pouco mais do que o hábito o permite, e passa uma noite de festa, vamos supor o fim de ano, a falar por falar com uma obesa norte-americana sob o vazio de um dialogar que nunca existiu. Mais, o que, creio, escreve, traduz a ideia de viver em pleno mas de forma subtil, incógnita, discreta, sem necessidade de reflexo na ideologia alheia ou de auxlios exteriores, afirmando uma auto-confiança a qual, julgo, só alcançavel quando verdadeiramente sentida. Escreve bem que se farta, digo-lhe! Deveria comprar o livro e le-lo antes de discutir o que o autor rabisca. Est tout à fait vrai et de sens, chiaaaaaaaaanne!

marta disse...

Oh, caro José! Muito me agradará ler o livro do Frankie, assim que estiver terminado. Imagino que isto deva acontecer daqui a umas 4 ou 5 conversas de café.
De qualquer forma, as pessoas abstémias nunca poderão entender como a mais banal das conversas pode transformar-se numa profundíssima discussão socio-filosofico-política, à luz de 2 ou 3 martinis. Para além de se poder aperfeiçoar a fluência em língua inglesa. Outros porém, sob o efeito do álcool, preferem aprofundar questões de outra índole, tal como os pequenos moscos de Penn State, but you wouldn't know...

hehe

José disse...

Cara Marta:
Apesar de não saber do que fala, acredite que lhe sinto com exactidão o mesmo medo como se o soubesse. Estranhos efeitos que provocam as bebidas: e depende delas. Consoante o prazer, determinados os efeitos.