terça-feira, 24 de novembro de 2009



'Recordar a eventual dor a que fomos sujeitos aquando da nossa própria aparição, aquele primeiríssimo abrir de pulmões, não é competência da memória, pois não a tínhamos ou ainda inexistia – o que, daí, nada faz esperar a ideia de que para todas as revelações, sejam de que ordem for, se não atribua uma pena, uma contrapartida. Mesmo que por natureza não existisse esse apanágio, por certo a nossa recordação se encarregaria da função. É na memória que a dor e o coligir do que isso consiste se dá. A essência dorial está numa actividade de Passado, e na antalgia de se apenas existir através dela. A dor está na memória; não podemos existir sem recordação; e acontecemos sem reminiscências. A vida é muito estranha.'
Frank Green in DIAPORESE