quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

a pérola em cima do bolo

...that's hot

Kanye West


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quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

domingo, 24 de fevereiro de 2008

"Duas coisas enchem a alma de admiração e de respeito sempre renovados e que aumentam à medida que o pensamento mais vezes se concentra nelas: acima de nós, o céu estrelado; no nosso íntimo, a lei moral. Não é necessário buscá-las e adivinhá-las como se estivessem ofuscadas por nuvens ou situadas em região inacessível, para além do meu horizonte; vejo-as ante mim e relaciono-as imediatamente com a consciência da minha existência. A primeira, a partir do lugar que ocupo no mundo exterior, estende a relação do meu ser com as coisas sensíveis a todo esse imenso espaço onde os mundos se sucedem aos mundos e os sistemas aos sistemas e a toda a duração ilimitada dos seus movimentos periódicos. A segunda parte do meu invisível eu, da minha personalidade e do meu posto num mundo que possui a verdadeira infinitude, mas no qual o entendimento mal pode penetrar e ao qual reconheço estar vinculado por uma relação não apenas contingente, mas universal e necessária (relação que também alargo a todos esses mundos visíveis). Numa, a visão de uma infinidade de mundos quase aniquila a minha importância, na medida em que me considero uma criatura animal que, depois de ter (não se sabe como) gozado a vida durante um breve lapso de tempo, deve devolver a matéria de que é formada ao planeta em que vive e que não é mais do que um ponto no universo. Pelo contrário, a outra ergue infinitamente o meu valor como inteligência, mediante a minha personalidade, na qual a lei moral me revela uma vida independente da animalidade e até de todo o mundo sensível, pelo menos na medida em que podemos julgá-lo pelo destino que esta lei consigna à minha existência, e que, em vez de ser limitada às condições e aos limites desta vida, se alarga até ao infinito."
Emmanuel Kant, in 'Crítica da Razão Prática'

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

"Devemos estudar os meios de alcançar a felicidade, pois, quando a temos, possuímos tudo e, quando não a temos, fazemos tudo por alcançá-la. Respeita, portanto, e aplica os princípios que continuadamente te inculquei, convencendo-te de que eles são os elementos necessários para bem viver. Pensa primeiro que o deus é um ser imortal e feliz, como o indica a noção comum de divindade, e não lhe atribuas jamais carácter algum oposto à sua imortalidade e à sua beatitude. Habitua-te, em segundo lugar, a pensar que a morte nada é, pois o bem e o mal só existem na sensação. De onde se segue que um conhecimento exacto do facto de a morte nada ser nos permite fruir esta vida mortal, poupando-nos o acréscimo de uma ideia de duração eterna e a pena da imortalidade. Porque não teme a vida quem compreende que não há nada de temível no facto de se não viver mais. É, portanto, tolo quem declara ter medo da morte, não porque seja temível quando chega, mas porque é temível esperar por ela. É tolice afligirmo-nos com a espera da morte, visto ser ela uma coisa que não faz mal, uma vez chegada. Por conseguinte, o mais pavoroso de todos os males, a morte, nada significa para nós, pois enquanto vivemos a morte não existe. E quando a morte veio, já não existimos nós. A morte não existe, portanto, nem para os vivos nem para os mortos, pois para uns ela não é, e pois os outros não são mais. (...) Deve, em terceiro lugar, compreender-se que, de entre os desejos, uns são naturais e os outros vãos e que, de entre os naturais, uns são necessários e os outros somente naturais. Finalmente, de entre os desejos necessários, uns são necessários à felicidade, outros à tranquilidade do corpo e outros à própria vida. Uma teoria verídica dos desejos ajustará os desejos e a aversão à saúde do corpo e à ataraxia da alma, pois é esse o escopo de uma vida feliz, e todas as nossas acções têm por fim evitar ao mesmo tempo o sofrimento e a inquietação.Quando o conseguimos, todas as tempestades da alma se desfazem, não tendo já o ser vivo de dirigir-se para alguma coisa que não possui, nem buscar outra coisa que possa completar a felicidade da alma e do corpo. Porque nós buscamos o prazer somente quando a sua ausência causa sofrimento. Quando não sofremos, não sabemos que fazer do prazer. E por isso dizemos que o prazer é o começo e o fim de uma vida venturosa. O prazer é, na verdade, considerado por nós como o primeiro dos bens naturais, é ele que nos leva a aceitar ou a rejeitar as coisas, a ele vamos parar, tomando a sensibilidade como critério do bem. Ora, pois que o prazer é o primeiro dos bens naturais, segue-se que não aceitamos o primeiro prazer que vem, mas em certos casos desdenhamos numerosos prazeres quando têm por efeito um tormento maior. Por outro lado, há numerosos sofrimentos que reputamos preferíveis aos prazeres, quando nos trazem um maior prazer. Todo o prazer, na medida em que se conforma com a nossa natureza, é portanto um bem, mas nem todo o prazer é entretanto necessariamente apetecível. Do mesmo modo, se toda a dor é um mal, nem toda é necessariamente de evitar. Daqui procede que é por uma sábia consideração das vantagens e dissabores que traz que cada prazer deve ser apreciado. Na verdade, em certos casos, tratamos o bem como um mal e, noutros, o mal como um bem. Depender apenas de si mesmo é, em nossa opinião, grande bem, mas não se segue, por isso, que devamos sempre contentar-nos com pouco. Simplesmente, quando a abundância nos falece, devemos ser capazes de contentar-nos com pouco, pois estamos persuadidos de que fruem melhor a riqueza aqueles que menos carecem dela e que tudo que é natural se alcança facilmente, enquanto é difícil obter o que o não é. As iguarias mais simples dão tanto prazer como a mesa mais ricamente servida, quando está ausente o tormento que a carência determina, e o pão e a água causam o mais vivo prazer quando os tomamos após longa privação. O hábito da vida simples e modesta é portanto boa maneira de cuidar da saúde e torna, além disso, o homem corajoso para suportar as tarefas que deve necessariamente realizar na vida. Permite-lhe ainda, eventualmente, apreciar melhor a vida opulenta e endurece-o contra os reveses da fortuna. Por conseguinte, quando dizemos que o prazer é o soberano bem, não falamos dos prazeres dos debochados, nem dos gozos sensuais, como pretendem alguns ignorantes que nos combatem e desfiguram o nosso pensamento. Falamos da ausência de sofrimento físico e da ausência da perturbação moral. Porque não são nem as bebidas e os banquetes contínuos, nem o prazer do trato com as mulheres, nem o júbilo que dão o peixe e a carne com que se enchem as mesas sumptuosas que ocasionam uma vida feliz, mas hábitos racionais e sóbrios, uma razão buscando incessantemente causas legítimas de escolha ou de aversão e rejeitando as opiniões susceptíveis de trazerem à alma a maior perturbação. O princípio de tudo isto e, ao mesmo tempo, o maior bem é, portanto, a prudência. Devemos reputá-la superior à própria filosofia, pois que ela é a fonte de todas as virtudes que nos ensinam que não se alcança a vida feliz sem a prudência, a honestidade e a justiça e que a prudência, a honestidade e a justiça não podem obter-se sem o prazer. As virtudes, efectivamente, provêm de uma vida feliz, a qual, por sua vez, é inseparável das virtudes. "
Epicuro, in "Carta a Meneceu"

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008


"É preciso não nos conhecermos mal: somos autómato, tanto quanto espírito, donde resulta que o instrumento pelo qual se faz a persuasão não é unicamente a demonstração. Quão poucas são as coisas demonstradas! As provas não convencem senão o espírito. O hábito dá-nos provas mais fortes e mais críveis; inclina o autómato, que arrasta o espírito, sem que ele o saiba. Quem demonstrou que amanhã será dia, e que morremos? E que existirá de mais crível? É, portanto, o hábito que nos persuade; é ele que faz tantos cristãos, que faz os maometanos, os pagãos, os artesãos, os soldados, etc. Enfim, é preciso recorrer a ele depois de o espírito ter visto onde está a verdade, para nos dessedentar e nos impregnar dessa crença que nos escapa a todo o momento; pois ter as provas sempre presentes é por demais penoso. É mister adquirir uma crença mais fácil - a do hábito -, que, sem violência, sem artifício, sem argumento, nos faz crer nas coisas e predispõe todas as nossas faculdades para essa crença, de sorte que a nossa alma nela mergulhe naturalmente.Não basta crer pela força da convicção, quando o autómato está predisposto a crer o contrário. É preciso fazer com que as nossas duas partes creiam: o espírito, pelas razões, que lhe bastará ter visto uma vez na vida; e o autómato, pelo hábito, sem lhe permitir que se incline para o contrário."
Blaise Pascal, in 'Pensamentos'

domingo, 10 de fevereiro de 2008

That's hot

"Por mais válido e fecundo que seja na sua origem, um movimento literário apresenta sempre dois perigos: cria banalidades e tende para o beco sem saída. Enquanto os iniciadores têm, geralmente, inteligência de tacto para não ir aos extremos do que experimentam, e aí conservarem um esquilíbrio humano, os epígonos não se contentam em retomar os seus temas, ampliam-nos, forçam os efeitos. Deste modo, acerca da consciência trágica do nosso tempo proliferou um literatura tenebrosa e suja, onde a verdade psicológica é procurada sistemáticamente ao nível da animalidade, em que a visão lúcida da desordem se transforma no prazer do mal, o desespero em raiva, a embriaguez sensual em frenesim erótico e muitas vezes o desgosto da vida na obsessão do suicídio."
Pierre-Henri Simon in 'O Homem em Processo'
"Há uma elasticidade cósmica, se assim lhe posso chamar, que é extremamente enganadora. Dá ao homem a ilusão temporária de que é capaz de mudar as coisas. Mas o homem acaba sempre por tornar a cair em si. É aí, na sua própria natureza, que pode e deve praticar-se a transmutação, e em nenhum outro lugar. E quando um homem percebe a que ponto é isto verdade, reconciliando-se com todas as aparências do mal, da fealdade, da mentira e da frustração; a partir de então, deixa de aplicar ao mundo a sua imagem pessoal de tristeza e dor, de pecado e corrupção.
Eu poderia, é certo, formular tudo isto de modo muito mais simples, dizendo que, aos olhos de Deus, tudo é divino. E quando digo tudo, é mesmo tudo o que quero dizer. Quando olhamos as coisas a tal luz, a palavra «transmutação» adquire um sentido ainda maior: pressupõe que o nosso bem-estar depende do nosso entendimento espiritual, do modo como nos servimos da visão divina que possuímos.
Com um critério assim, o que nos poderá ainda chocar? "

Henry Miller, in "O Mundo do Sexo"

The Cat Empire

"Uma religião a que se elimine o ritual desaparece - porque as religiões para os homens (com excepção dos raros metafísicos, moralistas e místicos) não passam de um conjunto de ritos, através dos quais cada povo procura estabelecer uma comunicação íntima com o seu deus e dele obter favores."
Eça de Queiroz, in 'A Correspondência de Fradique Mendes'
"É triste pensar assim, mas não há dúvida que o Génio dura mais que a Beleza. É por isso que todos nós nos esforçamos tanto por nos cultivar. Na luta selvagem pela existência, queremos ter algo que dure e por isso enchemos as nossas mentes de entulho e factos, na esperança vã de mantermos o nosso estatuto. O homem perfeitamente bem informado, é esse o ideal moderno. E a mente do homem perfeitamente bem informado é uma coisa medonha. É como uma loja de bricabraque, só mamarrachos e pó, todas as coisas cotadas acima do seu valor."
Oscar Wilde, in 'O Retrato de Dorian Gray'

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008



C'est Eça de Queiroz, putain!

"Em Portugal não há ciência de governar nem há ciência de organizar oposição. Falta igualmente a aptidão, e o engenho, e o bom senso, e a moralidade, nestes dois factos que constituem o movimento político das nações. A ciência de governar é neste país uma habilidade, uma rotina de acaso, diversamente influenciada pela paixão, pela inveja, pela intriga, pela vaidade, pela frivolidade e pelo interesse. A política é uma arma, em todos os pontos revolta pelas vontades contraditórias; ali dominam as más paixões; ali luta-se pela avidez do ganho ou pelo gozo da vaidade; ali há a postergação dos princípios e o desprezo dos sentimentos; ali há a abdicação de tudo o que o homem tem na alma de nobre, de generoso, de grande, de racional e de justo; em volta daquela arena enxameiam os aventureiros inteligentes, os grandes vaidosos, os especuladores ásperos; há a tristeza e a miséria; dentro há a corrupção, o patrono, o privilégio. A refrega é dura; combate-se, atraiçoa-se, brada-se, foge-se, destrói-se, corrompe-se. Todos os desperdícios, todas as violências, todas as indignidades se entrechocam ali com dor e com raiva. À escalada sobem todos os homens inteligentes, nervosos, ambiciosos (...) todos querem penetrar na arena, ambiciosos dos espectáculos cortesãos, ávidos de consideração e de dinheiro, insaciáveis dos gozos da vaidade."
Eça de Queiroz, in 'Distrito de Évora
"Eu penso que o riso acabou - porque a humanidade entristeceu. E entristeceu - por causa da sua imensa civilização. O único homem sobre a Terra que ainda solta a feliz risada primitiva é o negro, na África. Quanto mais uma sociedade é culta - mais a sua face é triste. Foi a enorme civilização que nós criámos nestes derradeiros oitenta anos, a civilização material, a política, a económica, a social, a literária, a artística que matou o nosso riso, como o desejo de reinar e os trabalhos sangrentos em que se envolveu para o satisfazer mataram o sono de Lady MacBeth. Tanto complicámos a nossa existência social, que a Acção, no meio dela, pelo esforço prodigioso que reclama, se tornou uma dor grande: - e tanto complicámos a nossa vida moral, para a fazer mais consciente, que o pensamento, no meio dela, pela confusão em que se debate, se tornou uma dor maior. O homem de acção e de pensamento, hoje, está implacavelmente votado à melancolia.Este pobre homem de acção, que todas as manhãs, ao acordar, sente dentro em si acordar também o amargo cuidado do pão a adquirir, da situação social a manter, da concorrência a repelir, da «íngreme escada a trepar», poderá porventura afrontar o Sol com singela alegria? Não. Entre ele e o Sol está o negro cuidado, que lhe estende uma sombra na face, lhe mata nela, como a sombra sempre faz às flores, a flor de todo o riso. Por outro lado o homem de pensamento que constantemente, pelo fatalismo da educação científica e crítica, busca as realidades através das aparências, e que no céu só vê uma complicada combinação de gases, e que na alma só descobre uma grosseira função de órgãos, e que sabe que porção de fosfato de cal entra em toda a lágrima, e que diante de dois olhos resplandecentes de amor pensa nos dois buracos da caveira que estão por trás, e que a todo o sacrifício heróico penetra logo o motivo egoísta, e que caminha sempre à procura da lei estável e eterna, e que a cada passo perde um sonho, e que por fim não sabe para onde vai, e nem mesmo sabe quem é - não pode ser senão um triste! Desde que homem de acção e homem de pensamento são paralelamente tristes - o mundo, que é sua obra, só pode mostrar tristeza. Tristeza na sua literatura, tristeza na sua sociedade, tristeza nas suas festas, tristeza nos fatos negros de que se veste... Tristeza dentro de si, tristeza fora de si. E quando por acaso alguém por profissão tradicional, como os palhaços, ou por contraste, ou pela saudade da antiga alegria e o desejo de a ressuscitar, procura fazer rir este mundo - só lhe consegue arrancar a tal casquinada curta, áspera, rangente, quase dolorosa, que parece resultar de cócegas feitas nos pés de um doente. Não há que duvidar! Voltaram os tempo de Albert Durer! Outra vez o famoso moço de asas potentes, no meio dos inumeráveis instrumentos das ciências e das artes, que atulham o seu laboratório, e diante das obras colossais, que com eles construiu, sente, sob esta produção excessiva que o não tornou nem melhor nem mais feliz, um imenso desalento, e, considerando a inutilidade de tudo, de novo deixa pender sobre as mãos a testa coroada de louro. Pobre moço, que, de muito trabalhar sobre o universo e sobre ti próprio, perdeste a simplicidade e com ela o riso, queres um humilde conselho? Abandona o teu laboratório, reentra na Natureza, não te compliques com tantas máquinas, não te subtilizes em tantas análises, vive uma boa vida de pai próvido que amanha a terra, e reconquistarás, com a saúde e com a liberdade, o dom augusto de rir. Mas como pode escutar estes conselhos de sapiência um desgraçado que tem, nos poucos anos que ainda restam de século, de descobrir o problema da comunicação interastral, e de assentar sobre bases seguras todas as ciências psíquicas? O infeliz está votado ao bocejar infinito. E tem por única consolação que os jornais lhe chamem e que ele se chame a si próprio - o Grande Civilizado."
Eça de Queiroz, in 'A Decadência do Riso'

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

"A arte é tudo - tudo o resto é nada. Só um livro é capaz de fazer a eternidade de um povo. Leónidas ou Péricles não bastariam para que a velha Grécia ainda vivesse, nova e radiosa, nos nossos espíritos: foi-lhe preciso ter Aristófanes e Ésquilo. Tudo é efémero e oco nas sociedades - sobretudo o que nelas mais nos deslumbra. Podes-me tu dizer quem foram, no tempo de Shakespeare, os grandes banqueiros e as formosas mulheres? Onde estão os sacos de ouro deles e o rolar do seu luxo? Onde estão os olhos claros delas? Onde estão as rosas de York que floriram então? Mas Shakespeare está realmente tão vivo como quando, no estreito tablado do Globe, ele dependurava a lanterna que devia ser a Lua, triste e amorosamente invocada, alumiando o jardim dos Capuletos. Está vivo de uma vida melhor, porque o seu espírito fulge com um sereno e contínuo esplendor, sem que o perturbem mais as humilhantes misérias da carne!
Nada há de mais ruidoso, e que mais vivamente se saracoteie com um brilho de lantejoulas - do que a política. Por toda essa antiga Europa real, se vêem multidões de politiquetes e de politicões enflorados, emplumados, atordoadores, cacarejando infernalmente, de crista alta. Mas concebes tu a possibilidade de daqui a cinquenta anos, quando se estiverem erguendo estátuas a Zola, alguém se lembre dos Ferry, dos Clemenceau, dos Cánovas, dos Brigth? Podes-me tu dizer quem eram os ministros do império em 1856, há apenas trinta anos, quando Gustave Flaubert escrevia «Madame Bovary»? Para o saber precisas desenterrar e esgaravatar com repugnância velhos jornais bolorentos: e achados os nomes nunca verdadeiramente poderás diferenciar o sujeito Baroche do sujeito Troplong: mas de «Madame Bovary» sabes a vida toda, e as paixões e os tédios, e a cadelinha que a seguia, e o vestido que punha quando partia à quinta-feira na «Hirondelle» para ir encontrar Léon a Rouen! Bismarck todo-poderoso, que é chanceler e de ferro, daqui a duzentos anos será, sob a ferrugem que o há-de cobrir, uma dessas figuras de Estado que dormem nos arquivos e que pertencem só à erudição histórica: o papa Leão XIII, tão grande, tão presente, que até as crianças lhe sabem de cor o sorriso fino, não será mais, na longa fila dos papas, que uma vaga tiara com um número; mas duzentos anos passarão, e mil - e o nome, a figura, e a vida de certo homem que não governou a Alemanha nem a Cristandade, estará tão fresca e rebrilhante como hoje na memória grata dos homens." Eça de Queiroz, in 'Prefácio dos «Azulejos» do Conde de Arnoso'

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Pearl Jam

Chemical Brothers

Michael Jackson

Jerry Lewis

Fergie

Moloko



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"Não se encontram hoje na Europa dois povos genuìnamente fraternais - e nos países cujos interesses mais se entreligam, as almas permanecem separadas. O Alemão detesta o Russo. O Italiano abomina o Austríaco. O Dinamarquês execra o Alemão. E todos aborrecem o Inglês - que os despreza a todos. São estes antagonismos, irracionais e violentos, tanto ou mais que as rivalidades de Estado, que forçam as nações a essa rígida atitude armada em que elas se esterilizam e se enervam - e hoje, diferentemente dos tempos antigos, o amor e o cuidado da paz está nos reis, e nos povos o impulso para a guerra. Isto provèm de que o poder, ou a influência sobre o poder, passou das castas para as massas, das oligarquias para as democracias. Outrora as oligarquias, tornadas 'cosmopolitas' pela educação, pelas viagens, pelas alianças, pela comunidade de hábitos e de gostos, pela similitude dos deveres da corte, pela tolerância geral que dá a cultura e pelas especiais afinidades de espírito que criava a cultura clássica, não odiavam nunca as outras nações.(...)As democracias, ao contrário, profundamente nacionais e nunca cosmopolitas, conservando com tradicional fidelidade os seus costumes próprios, e intolerantes para os costumes alheios - apenas se conhecem ( através das noções estreitas de uma instrução fragmentária) nas suas feições mais nacionalmente características e portanto mais irreconciliàvelmente opostas."
Eça de Queiroz, in 'cartas e outros escritos'

"Quando uma vez o fanatismo gangrenou um cérebro a doença é quase incurável. Eu vi convulsionários que, falando dos milagres de S. Páris, sem querer se acaloravam cada vez mais; os seus olhos encarniçavam-se, os seus membros tremiam, o furor desfigurava os seus rostos e teriam morto quem quer que os houvesse contrariado. Não há outro remédio contra essa doença epidémica senão o espírito filosófico que, progressivamente difundido, adoça enfim a índole dos homens, prevenindo os acessos do mal porque, desde que o mal fez alguns progressos, é preciso fugir e esperar que o ar seja purificado. As leis e a religião não bastam contra a peste das almas; a religião, longe de ser para elas um alimento salutar, transforma-se em veneno nos cérebros infeccionados.(...) As leis são ainda muito impotentes contra tais acessos de raiva; é como se lêsseis um aresto do Conselho a um frenético. Essa gente está persuadida de que o espírito santo que os penetra está acima das leis e que o seu entusiasmo é a única lei a que devem obedecer. Que responder a um homem que vos diz que prefere obedecer a Deus a obedecer aos homens e que, consequentemente, está certo de merecer o céu se vos degolar? De ordinário, são os velhacos que conduzem os fanáticos e que lhes põem o punhal nas mãos: assemelham-se a esse Velho da Montanha que fazia - segundo se diz - imbecis gozarem as alegrias do paraíso e que lhes prometia uma eternidade desses prazeres que lhes havia feito provar com a condição de assassinarem todos aqueles que ele lhes apontasse. Só houve uma religião no mundo que não foi abalada pelo fanatismo, é a dos letrados da China. As seitas dos filósofos estavam não somente isentas dessa peste como constituíam o remédio para ela: pois o efeito da filosofia é tornar a alma tranquila e o fanatismo é incompatível com a tranquilidade. Se a nossa santa religião tem sido frequentemente corrompida por esse furor infernal, é à loucura humana que se deve culpar."
Voltaire, in 'Dicionário Filosófico'
Originam-se quando as partículas electricamente carregadas, transportadas pelo vento solar, chocam a grande velocidade com os átomos e moléculas da atmosfera terrestre. Os choques provocam a excitação dos átomos e das moléculas que emitem um fotão luminoso, quando se descarregam. Têm por norma uma cor verde-amarelada, resultado do choque com átomos de oxigénio a alturas de entre 90 e 150 quilómetros, podendo ser também vermelhas, que ocasionalmente aparecem acima das verdes, sendo produzidas pelos átomos de oxigénio, ou ainda azuis, devido aos iões das moléculas de hidrogeno. Na Terra elas ocorrem ao longo de todas as chamadas "zonas aurorais", regiões em forma de anel que circundam os pólos geomagnéticos Norte e Sul. O nosso planeta, como outros do Sistema Solar, gera o seu próprio campo por intermédio de um dínamo interno (o fluido condutor por cá é um oceano de ferro derretido, 5 vezes o volume da lua: quando tudo era liquido o ferro afundou), que cria campos eléctricos e magnéticos a partir da energia cinética das suas partes móveis. Setembro, Outubro e Fevereiro, localizadas em latitudes de 67º Norte e Sul, 6 graus de largura.

Ode à bulimía


"Pois, na água ligeiramente agitada por detrás dele, sem se saber de onde teria vindo, iluminado pelo luar, o cisne apareceu a deslizar. Ali, no mundo natural, parecia majestoso, de penas a brilhar como se fossem de prata; tive de fechar os olhos, com a esperança de fazer desaparecer aquela imagem da minha cabeça. Porém, ao abri-los de novo, o cisne fazia círculos em frente de nós e, de súbito, dei comigo a sorrir. Noah tinha razão. Apesar de não saber porquê, ou como ela tinha vindo, não tive dúvidas de que se tratava da mesma ave. Tinha de ser. Vira aquele cisne centenas de vezes e, mesmo de longe, não pude deixar de reparar na pequena mancha preta que ele tinha tinha no meio, directamente sobre o coração"
Nicholas Sparks, in 'a alquimia do amor'
"Não tenhas medo do passado. Se as pessoas te disserem que ele é irrevogável, não acredites nelas. O passado, o presente e o futuro não são mais do que um momento na perspectiva de Deus, a perspectiva na qual deveríamos tentar viver. O tempo e o espaço, a sucessão e a extensão, são meras condições acidentais do pensamento. A imaginação pode transcendê-las, e mais, numa esfera livre de existências ideais. Também as coisas são na sua essência aquilo em que decidimos torná-las. Uma coisa é segundo o modo como olhamos para ela."
Oscar Wilde, in 'De Profundis'

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

"Não te queixes. Recolhe em ti a amargura, não a disperses, não a esbanjes com os outros. Ela é tua, nasceu de ti, da tua miséria, pertence-te como os ossos e as vísceras. Concentra-te nela, absorve-a, faz dela a tua grandeza. Porque só se é grande pelo sofrimento, não pela futilidade do prazer. As pedras não sofrem, Cristo esteve «triste até à morte». Tem desprezo pelos homens felizes, porque dos homens felizes «não reza a história». Só a dor pode medir o teu tamanho de excepção, só ela pode medir o que tu vales. O sofrimento medíocre não dá mais do que a comédia, mas a grandeza da tragédia só pode atribuir-se aos grandes. Não te aconselho a que vás ao encontro da amargura, mas se ela vier ter contigo, acolhe-a com serenidade. Não sucumbas aos seus golpes, aguenta-os até onde puderes. E se és homem de verdade, tu a aguentarás.Também as grandes alegrias são do destino dos grandes, porque elas são irmãs dos grandes sofrimentos. Só os pequenos e mesquinhos se alegram e sofrem com o que é mesquinho e pequeno. Aquilo que é pequeno é imperceptível a quem o não é. Que juízo fazem de ti, se sofres com o que é ridículo? Não sofras. As grandes tempestades, a grande luz solar são a medida da Natureza. Que tu tentes contrariar a alegria que te rodeia na nova Primavera e não o conseguirás. A Terra cumpre-se igual em flores e renovação. Não te queixes. Recolhe-te a ti. E o destino do homem que te sagrou será a tua perfeição."
Vergílio Ferreira, in 'Conta-Corrente IV'
"No ser vivo toda a necessidade essencial, que brota do próprio ser e não lhe advém de fora acidentalmente, vai acompanhada de voluptuosidade. A voluptuosidade é a cara, a facies da felicidade. E todo o ser é feliz quando satisfaz o seu destino, isto é, quando segue a encosta da sua inclinação, da sua necessidade essencial, quando se realiza, quando está a ser o que é na verdade. Por esta razão Schlegel dizia, invertendo a relação entre voluptuosidade e destino: «Para o que nos agrada temos génio». O génio, isto é, o dom superlativo de um ser para fazer alguma coisa tem sempre simultaneamente uma fisionomia de supremo prazer. Num dia que está próximo e graças a uma transbordante evidência vamo-nos ver surpreendidos e obrigados a descobrir o que agora somente parecerá uma frase: que o destino de cada homem é, ao mesmo tempo, o seu maior prazer. "
Ortega y Gasset, in 'O Que é a Filosofia?'

under my umbrella



Boa tarde. Neste soalheiro dia 5 de Fevereiro, aqui, no Brasil, as pessoas estão bem mais felizes do que o que eu me recordo ser possível em Portugal, ou pela Europa, mesmo no Natal. Estando tão entediado de me divertir como se o amanhã não existisse optei por tentar fazer algo monótono e aborrecido, só para quebrar esta tropical rotina. Porém, mesmo no mais voraz esforço por encontrar algo decadente e infeliz, eis que brota frente a mim este vídeo da Mad Tv, que já me tem vindo a prendar com alguns dos mais hilariantes momentos cibernauticos. Coisas do Carnaval. Diz que o Sr.Barack Obama ou a Sra. Hillary Clinton vai montar a casa branca :"a white women or a black man?". Ambos democratas, portanto, o que é óptimo. Mrs. Clinton, 61 anos, obstinada e enchifrada em grande, deambula qual necrófago, petiscando dos restos do seu marido e enchifrador, considerado um dos melhores presidentes da história dos USA. Caucasiana, loura e mãe de uma. Ele, 46 anos, com prol conhecida de duas, junta o útil ao agradável e aceita tranquilamente o apoio de Oprah Winfrey, Stevie Wonder, entre outros ícone da comunidade afro-americana, para comer mais um voto ou outro, que isto hoje não é fácil e sendo-se preto pior fica. Para os que ainda não escolheram o seu preferido e o querem fazer, espero que o vídeo seja elucidativo e vos possibilite a iluminada opção.

Fatboy Slim

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

that's hot

"A pura, perfeita, e absoluta liberdade consiste em não necessitar de coisa alguma: e esta é própria dos bem-aventurados. Outra mais inferior consiste em necessitar de poucas coisas: e quanto estas forem menos, tanto a liberdade será de mais alto grau. E esta é a que na presente vida podemos, e devemos procurar (...). Daqui se infere, que quanto maior é a grandeza de estado de uma pessoa, tanto maior é o seu cativeiro (excepto aqueles poucos, que só no exterior são grandes, e no seu interior pequenos): porque necessita de inumeráveis coisas para o adquirir, e conservar: antes nessas mesmas coisas consiste o tal estado."
Manuel Bernardes, in 'Luz e Calor'
"As paixões colectivas são muito pouco numerosas e de qualidade grosseira: o meu Deus é o único Deus; a minha política é a verdade universal; o meu país tem como vocação dominar os outros. Enquanto isto, as paixões individuais são de uma diversidade infinita, de uma tissura imprevisível e sempre surpreendente. Sou pela cultura dessas mil flores diferentes. Não sou favorável a três ou quatro flores carnívoras gigantescas."
Louis Pauwels, in 'Carta Aberta às Pessoas Felizes'

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

"Foi observado em todas as épocas que as vantagens da natureza, ou da fortuna, contribuíram muito pouco para a promoção da felicidade; e que aqueles a quem o esplendor da sua classe social, ou a extensão das suas capacidades, colocou no topo da vida humana não deram muitas vezes ocasião justa de inveja por parte dos que olham para eles de uma condição mais baixa; quer seja que a aparente superioridade incite a grandes desígnios e os grandes desígnios corram naturalmente o risco de insucessos fatais; ou que o destino da humanidade seja a miséria, os infortúnios daqueles cuja eminência atraiu sobre eles a atenção universal foram mais cuidadosamente registados, porque, em geral, eram mais bem observados e foram, na realidade, mais conspícuos do que outros, mas não com maior frequência nem severidade."
Samuel Johnson, in James Boswell 'Life of Savage'

that's it/hot


"O poder magnético que sobre os homens exercem as ideologias, embora já se lhes tenham tornado decrépitas, explica-se, para lá da psicologia, pelo derrube objectivamente determinado da evidência lógica como tal. Chegou-se ao ponto em que a mentira soa como verdade, e a verdade como mentira. Cada expressão, cada notícia e cada pensamento estão preformados pelos centros da indústria cultural. O que não traz o vestígio familiar de tal preformação é, de antemão, indigno de crédito, e tanto mais quanto as instituições da opinião pública acompanham o que delas sai com mil dados factuais e com todas as provas de que a manipulação total pode dispor. A verdade que intenta opor-se não tem apenas o carácter de inverosímil, mas é, além disso, demasiado pobre para entrar em concorrência com o altamente concentrado aparelho da difusão."
Theodore Adorno, in "Minima Moralia"

FPA


The Gossip

Lupanar

Permitam-me informar-vos da minha solidariedade para com o Sr. Bastonário da Ordem dos Advogados, que bem se debate nas televisões, e que bom protagonismo ganha na ordem pública, partindo esta do pressuposto, como tal, que acordou ele uma inteira e tão saudosa nação para o novo e súbito problema da corrupção em Portugal, que pôs ele uns espessos óculos nas cegas dioptrias do povo nacional, a plebe Europeia.
Confesso que fiquei realmente surpreso com a noticia de gentes, por vezes certas e determinadas, conhecidas e quase reconhecidas em praça pública (até governantes estão metidos nestes inovatórios meios…), que mediante uso imoral e ilegal, se unem numa bola de fios sem fim, onde nada se sabe e tudo se desconhece, com o fim de transferirem verba pública (amnistiando, por agora, a privada, e os brilhantes esquemas dos recibos verdes)de maneira imoral e criminosa para outras gentes, ligadas por quaisquer laços de interesse comum –etnia, religião, negócios, graus (inferiores) de formação, etecetera! Jamais me tinha apercebido dessa situação: deslizando do bonito Paço do Conselho aka Casa das Obras aka Solar dos Viscondes de Valongo, onde hoje se situa uma Câmara Municipal gerida por quem nada sabe de gestão, onde a palavra suborno ganha toda uma nova significação, passando pela Igreja e seus incontáveis afluentes, desde o fio de água do padre da paróquia, até à vastidão oceânica da Opus Dei (…) e aterrando na Assembleia da Republica, ovário do sistema legislativo repleto de carcinomas, onde Sr. Deputados exercem em paralelo com as suas funções parlamentares actividades profissionais com gigantes do sector privado, nunca me seria possível percepcionar o conceito, de tão burro que sou. Brolho, vá.
A corrupção, tema enervante, é assunto sociológico e da psicologia, não é para mim, que me dá cabo da tensão. Em sociedades de formação cívica superior, a denuncia destes casos é encarada pela opinião pública como necessidade comum: todos beneficiam. O problema consiste em haver generalizada descrença na responsabilização, muito pouco laicismo e a teima ignorante de beneficiar do ilícito quando possível. Num país onde tudo se vende, algo se aluga e o pouco mais se arrenda, é sonho ser-se puta… Uma recusa é tradução de arquitectura intelectual de gosto, um repudiar ao que deve ser repudiado, contextualizar na prática o ideal de justiça.
Mas não é para quem pode...
É para quem quer!
speak out!

300.000 km/s

“ Por entre a balbúrdia, uma ou outra voz mais alta. As que falam dos deuses todos em torrente de ecos pelo espaço, por entre um fervor de ladainhas. E das divindades subalternas, mais chegadas à humanidade, para socorro das desgraças proletárias, desde o antraz e o coice de mula à espinhela caída – com a casquinada crítica dos descrentes evoluídos, ressoa pelo espaço entremeada à devoção como um grasnar de corvos. A dos políticos salvadores da humanidade num histerismo com receitas prontas a aviar e a defesa aos guinchos da liberdade e da autoridade, que são iguais mas muitíssimos diferentes, porque a defesa da liberdade obriga a defendê-la dos que são contra a liberdade e exige pois uma autoridade de ferro para defendê-la, da propriedade e do ideal comunitário e comunitarismo em escalões, da gestão, autogestão, e semiautogestão, do direito à informação e que tem de ser por isso desinformação por virtude do direito à informação e que tem de ser por isso informação correcta e deixa assim de ser direito à informação que todavia ainda é esse direito mas melhorado embora não seja já direito à informação por não ter esse direito, do direito à cultura que é só à boa cultura porque a má cultura é contra a boa e já não é cultura e precisa de ser afastada para salvaguarda do povo que gosta da má cultura pelo vicio intrínseco de ser povo que precisa portanto de ser defendido contra si para não ser ele mas por aqueles que defendem a boa e podem defendê-la por virtude de serem mandatados pelo povo que não gosta da boa mas da outra, do direito ao trabalho que não é o dever de trabalhar, excepto quando os que defendem esse direito, mandatados pelos que não têm esse direito, conquistam o direito de imporem esse direito que é então um dever e os que não tinham esse direito já não querem, porque o direito e o dever estão cheios de antagonismos, e a defesa da democracia popular da democracia parlamentar e da democracia orgânica, da república da monarquia da oligarquia e da centralização, da descentralização e da anarquia, do presidencialismo e do semipresidencialismo da regionalização e das autarquias locais, do primado do grupo, do primado do indivíduo, do primado da identidade nacional, e a interpretação das leis filtradas trabalhosamente pelos ódios ambições ralhos partidários dos que foram comissionados pela vontade colectiva esquadriada pelos grupos que os sonhos em ambições e ódios esquadriam e foram apurados depois de dias e semanas e meses e saíram depois ainda com uma rede intervalada de orifícios por onde se escaparam ainda em ginástica de rins as ambições teorias princípios salvadores do bem comum que ficaram de fora dos princípios salvadores do bem comum em que se entreteceu a rede das leis, enquanto de outros cantos do mundo outras leis contrárias também para o bem comum erguiam-se em grita e doutros cantos também em beneficio do ser-se em colectividade, cruzadas vozes por cima trémulas de ardor e histeria, embatiam umas nas outras esguichavam como ondas que se entrecruzam pulverizam-se num ruído anónimo de arraial popular. “

Vergílio Ferreira, para sempre