segunda-feira, 30 de junho de 2008


Para a Guigas

Lembras-te da estória que te contei da pedra e da flor? Hoje como em todos os dias, continua a ser verdade... (achei que gostarias de saber)

alarvidade proferida por Antonio Pereira Dias at 11/17/2004 2 bitaites
'Ser conservador em Portugal é responder afirmativamente a três perguntas fundamentais: a) gosta de touradas? b) gosta de fados? c) gosta do sr. Dom Duarte e chora regularmente pela memória do sr. Dom Miguel? Tão simples, tão rápido: quem gosta de touros, reis e guitarradas pode vestir o traje do conservador marialva, essa ridícula criatura que continua a habitar o imaginário político da direita lusitana. Eu falho nas três questões.(...)'

por João Pereira Coutinho, in Única, Expresso nº1859, 13 Junho 2008
'Ecletismo é qualidade superior, refrescante, arrefece o fervor dos extremismos sempre prejudiciais, seja em que campo for. Ecletismo é moderação, é racionalidade, é a institucionalização do civismo. Ecletismo é o trilho que tento seguir, tantas vezes sem êxito, estou consciente. Ecletismo é algo que não vejo nos actos opinativos destes neo-eruditos de esquerda, cobertos por um intelectualismo pseudo-liberal, de tendência homossexual (em lato sensu, naturalmente; não digo que gostem de homens, mas utilizo a palavra homossexual por não existir na nossa língua outro termo que permita referir-me a esta classe que prima por uma amabilidade dúbia, por feitio adocicado e empertigado e por um notório défice de testosterona). Não quero ser mal interpretado: sou um fascinado pela civilização, da qual a cortesia e a boa-educação, mormente o bom-trato e a etiqueta, são expoentes máximos. Mas há que distinguir tão nobres virtudes das exuberantemente pavoneadas por pessoas 'amaricadamente' polidas.Se ainda ontem nas ruas da cidade que é minha há quatro gerações desfilaram homossexuais e lésbicas (num movimento defendido por mim da mesma forma que defendo qualquer movimento pela liberdade do indíviduo e do livre desenvolvimento dos seus fins) e se, tal como eu, também os joãos pereiras coutinhos louvam este tipo de atitudes, então porquê tamanha cruzada pelo fim do castiço? Se existe o orgulho gay, porque é que os homens não se podem orgulhar de ser homens? Se para uma mulher ser feminista é condição sine qua non de ser progressista, porque é que o machismo é pejorativo? A verdade é que a luta pela extinção do marialva é bandeira desta classe que no fundo não passa de um conjunto de carneiros com gostos estereotipados e opiniões fotocopiadas e incontestavelmente repetidas. A diferença entre o eruditismo e o pedantismo é que o primeiro envolve necessariamente o domínio do conhecimento e o exercício do pensamento, enquanto que o segundo passa somente pela ostentação do mesmo, porventura plagiado. Vide Michel de Montaigne. Daí que eu não renegue as origens que carrego no sangue nem a tradição de um povo que é o meu, apenas para pertencer a uma classe pseudo-intelectual de quem não gosto e onde não me revejo. Sou pensador-livre. Emociono-me com a dança mortal entre a besta e o matador na arena e arrepio-me com a saudade que o fado revela. E orgulho-me disso. Gosto de comer bem, de vinho, brandy, whisky. E mais do que isto, muito mais, amo a Mulher. Delicada, frágil. De uma castidade idílica. Abençoada pela evolução da espécie, ser ternurento dotado duma subtileza divinal. Deliciosamente graciosa. Gosto de cortejá-la e tratá-la como mulher. Porque é isso que é.'
'Sim, a eternidade é o nosso signo. Não começámos a existir nem o fim da existência o entendemos como fim. Por isso não sentimos que não existimos antes de começarmos a existir mas apenas que tudo isso que aconteceu antes de termos existido foi apenas qualquer coisa a que por acaso não assistimos como a muito do que acontece no nosso tempo. E à morte invencivelmente a ultrapassamos para nos pormos a existir depois dela. O prazer que nos dá a história do passado, sobretudo os documentos que no-lo dão flagrantemente, vem de nos sentirmos prolongados até lá, de nos sentirmos de facto presentes nesse modo de ser contemporâneos. Mas sobretudo há em nós uma memória-limite, uma memória absoluta que não tem nada de referenciável e se prolonga ao sem fim. Do mesmo modo há o futuro que é pura projecção de nós, apelo irreprimível a um amanhã sem termo ou sem amanhã. Por isso a morte nos angustia e sobretudo nos intriga por nos provar à evidência o que profundamente não conseguimos compreender. Mas sobretudo a eternidade é o que se nos impõe no instante em que vivemos. O tempo não passa por nós e daí vem a impossibilidade de nos sentirmos envelhecer. Sabemo-lo na realidade, mas é um saber de fora. Repetimo-lo a nós próprios para enfim o aprendermos, mas é uma matéria difícil que jamais conseguimos dominar. Por isso estranhamos que os nossos filhos cresçam e se ergam perante nós como adultos que não deviam ser. Por isso estranhamos os jovens pela sua estranheza de que quiséssemos porventura ser jovens como eles. Instintivamente sentimos que é um abuso eles tomarem o lugar que nos pertencia e nos desalojem do lugar que era nosso. Por isso sofremos, não bem por perdermos o que nos pertencia, mas pela dificuldade de isso entendermos. Há uma oposição frontal entre o nosso íntimo sentir e a realidade que isso nos desmente. Somos eternos, mas vivemos no tempo. Somos imutáveis, mas tudo à nossa volta se muda e nos impõe a mudança. Somos divinos, mas de terrena condição. É essa condição que sabemos, mas não conseguimos aprender. Nesta oposição se gera toda a grandeza do homem e a tragédia que o marcou. Os que se fixam num dos termos são deuses iludidos ou animais que não chegaram a homens. Porque o verdadeiro homem é deus por vocação e animal por necessidade.'

Vergílio Ferreira, in 'Conta-Corrente 3'

sábado, 28 de junho de 2008

Gus Gus

What is a god of phoney creation,
Where am I going with no destination,
What if the fish came from the sea,
What if my lover made me feel free,
What if my intake caused revelation,
What if the point was reincarnation,
What if my shoes do'nt match my jacket,
If it's not working
why don't you smack it,
What if your mamma said you were fat,
If you are lost find where your at,
What is a number without any time,
You can't
get higher with nothing to climb,
Why have a body if you ain't got a mind,
What is a searcher with nothing to find,
Why is the traffic refusing to stop,
Why climb the ladder if you can't reach the top,
Where is the what if the what is in why?
What do you dream of when you sleep at night,
See how the blind man fills up with light,
What is
a bird with nowhere to fly,
How can you leave and not say goodbye,
What is a hunter with nothing to find,
What is the goodness without the unkind,
When did the outfit fall out of fashion,
When did the lover run out of passion,
My reincarnation time a phoney creation rhyme,
With no destination mine my information's fine
,
Why did the voice say don't step on the floor,
Why did the sign say so float through the door,
What is a god of phoney creation,
Where am I going with no destination,
What if the fish came from the sea,
What if my lover made me feel free,
What if my intake caused revelation,
What if the poin
t was reincarnation,
What if my shoes don't match my jacket,
If it's not working why don't you smack it,
What if your mamma said you were fat,
If you are lost find where you're
at!
Where is the what if the what is in why?
How did the loser get to be rich,
What is a saleman with nothing to pitch,
When did the fool get to be king,
Why did you leave when they asked you to sing,
Why loose belief if you got a dream,
What is a train that ran out of steam,
what is a spy with no-one to spy,

On who do you sleep with nothing to lie on,
What if the fruit don't fall from the tree,
What if these questions
just won't let you be,
Why waste your time looking for proof,
What if the answer
is never the truth?

The unknown

The Ting Tings

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Feel The Chill


'É especial e está sempre presente....... mas não é Deus.É sagrado........ mas não é Santo.Faz-te rir nos momentos difíceis........ mas não é anedota.Enxuga as tuas lágrimas........ mas não é lenço de papel.Ouve-te horas a fio........ mas não é psicólogo.Ilumina o teu dia........ mas não é o Sol.Aconselha-te e descobre os teus pensamentos........ mas não é vidente.Quando aparece é uma boa surpresa........ mas não é um presente.Vê através de ti e das tuas palavras........ mas não é aparelho de Raios X.Vibra incondicionalmente por ti........ mas não é claque de futebol.SABES O QUE É?Tem 5 letras apenas........É um AMIGO!!!!!!'

É O QUE ME FALTA!

'Pode-se dizer que, muito plausivelmente, há uma ignorância abecedária que precede o saber e uma outra, doutoral, que se lhe segue, ignorância esta que o saber produz e engendra da mesma maneira que desfaz e destrói aqueloutra. Dos espíritos simples, menos curiosos e menos instruídos, fazem-se bons cristãos, que, por reverência e obediência, com simplicidade, crêem e mantêm-se submissos às leis. É nos espíritos de vigor e capacidade médios que se engendram as opiniões erróneas, pois eles seguem a aparência das suas primeiras impressões e têm pretextos para interpretar como simpleza e estultícia o nosso apego aos antigos usos, considerando que nós aí não chegámos por via do estudo dessas matérias. Os grandes espíritos, mais avisados e clarividentes, constituem um outro género de bons crentes: por meio de uma aturada e escrupulosa investigação, penetram nas Escrituras até atingir uma luz mais profunda e abstrusa, e entendem o misterioso e divino segredo da nossa política eclesiástica. Vemos, porém, alguns, com maravilhoso proveito e com consolidação da sua fé, chegarem, através do segundo, a este último nível, como o extremo limite da inteligência cristã, e rejubilar na sua vitória com refrigério, acções de graças, reformas dos costumes e grande modéstia. Não entendo nesta categoria situar aqueloutros que, para se purgarem da suspeita dos seus passados erros e para ganharem a nossa confiança, tornam-se extremistas, insensatos e injutos defensores da nossa causa, a qual maculam com infindos e repreensíveis actos de violência.Os camponeses simples são gente honesta e gente honesta são os filósofos, ou seja, aqueles que, tanto quanto o permitem os nossos tempos, possuem naturezas fortes e ilustres, enriquecidas de um grande cabedal de conhecimentos úteis. Os «mestiços», que desdenharam o primeiro estado - o da ignorância das letras - e não conseguiram atingir o outro, estando o seu cu entre duas selas (e no seu número eu, com tantos outros, me incluo), são perigosos, ineptos e importunos: são eles que trazem transtorno ao mundo. Por isso, no que me diz respeito, recuo tanto quanto posso para esse primeiro estado natural, do qual em vão tentei me afastar. A poesia popular, puramente espontânea, tem encantos e graças pelas quais se compara à beleza superior da poesia artisticamente perfeita, como se vê nos vilancicos gascões e nas canções que nos foram trazidas de nações sem conheciemnto de nenhuma ciência e nem mesmo da escrita. A poesia mediana, que se situa entre essas duas, é desprezível e indigna de ser honrada e apreciada. (...) se estes ensaios fossem dignos de serem reflectidos, poderia ocorrer, em minha opinião, que eles não agradassem aos espíritos comuns e vulgares, nem tão-pouco aos singulares e excelentes - aqueles não os entenderiam suficientemente, estes, entendê-los-iam bem de mais - e só poderiam sobreviver na região intermédia.'

Michel de Montaigne, in 'Ensaios - Das Vãs Subtilezas'

she's just happy

quinta-feira, 26 de junho de 2008

quarta-feira, 25 de junho de 2008






Estoy hasta la gorra






'A «pessoa certa» para nós só o pode ser se, ao olhar para nós, vir a «pessoa certa» para ela.'



Margarida Rebelo Pinto, in Sol

"Verifiquei que, aos homens, se devia agradecer o menos possível, porque o reconhecimento que lhes testemunhamos os convence, facilmente, de que estão a fazer de mais!"

Benjamim Constant

terça-feira, 24 de junho de 2008

Put your lovin' hand out, baby

I'm beggin'Beggin', put your lovin' hand out, babyBeggin' you, put your lovin' hand out, babyRidin' high when I was kingPlayed it hard and fast cause I had everythingWalked away, wonderin' thenBut easy come and easy go and it would endI'm beggin' you, won't you give your hand out, babyBeggin', put your lovin' hand out, babyI need you to understandThat I tried so hard to be a manThe kind of man you'd want in the endOnly then can I begin to live againAn empty shell I used to beShadow of my life is hangin' over meBroken man that I don't knowWill leave it standing, devil's dancing with my soulBeggin' you, won't you give your hand out, babyBeggin', put your lovin' hand out, babyI'm fightin' hard to hold my ownNo, I just can't make it all aloneI'm holdin' on, I can't fall backNow that big brass ring is a shade of blackI'm beggin' you, give your hand out, babyBeggin', won't you put your lovin' hand out, baby

domingo, 22 de junho de 2008

and the sound to hear

the car to have

'Os abusos, como os dentes, nunca se arrancam sem dores.'

Marquês de Maricá

sábado, 21 de junho de 2008

'Resignados com a tua condição, coerentes na sua incoerência, te convencem. Em que crêem? Fazem-se sabedores da aparência e pouco de novo te contam – percepciona, pensa! O primeiro problema só te aconteceu na cabeça e apenas aí vive tudo o que é mau. Ambiciona a simulação e evita-te. Tem pressa do quê? O que mais devem saber se não apenas aquilo que te dispões a mostrar? Digna o teu idealizar há indiferença, distancia-te da tua própria presença, oferece sem dar. O que achas tu que chega amanhã? Viverás sempre 10 segundos em atraso? A convivência conveniente desbota a alma e liofiliza-a, apaga-a das suas singularidades, uniformiza e decompõe-na num único sabor. Conheces uma única excepção a esta regra?'

Sam Sparro

sexta-feira, 20 de junho de 2008

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Silvy Sandra, o tio travesti de Mimoso, o Osgo, recomenda:

"O bom dia.
Intercala luz fria e sombra, a manhã desata-se. Não vale a pena pressentir ou conhecer porque todo o futuro é neblina e o amanhã sabe a hoje quando se entrevê. Cada dia é vários e encerra uma prolixidade especialmente matinal. Vive a sua poesia não no que foi mas no não ter nunca sido – as frases perdidas que se recordam no esquecimento dos passeios, nas visões de sol nascente. Não encontro um sentido tépido. Pelo mistério que à calada do breu passaram as melhores fantasias sem encarar qualquer luz, há razão de sobra para existirem territórios remotos, opacos, intermitentes também, onde nem nesse isolado orgulho tenho consolação, futilissimamente. O rastro de luz loura que se faz no largo rio abre-se em serpentes no mar, estala de brilho. O sol vinha de prodigiosas terras, vistas se sonhadas, sem remetentes postais. Reparo, como se começasse a despertar de um sonho não dormido, de uma sensação de sono, os primeiros ruídos do mundo: um nada com respiração por fora. Escrevo isto sobre uma opressão de um tédio e de uma desilusão que parecem não caber em mim ou de precisarem mais que da minha mente para terem onde estar. "
Frank Green in 'Diaporese'

hilariante

Estoy hasta la gorra



"Contacto com ele através de sinais com os dedos. Ele cumpre e sabe tudo. Compreende o português e o italiano. Quando queremos que não perceba, falamos em inglês ou em francês. Os cães são os meus maiores amigos."



in revista 'Máxima', Maria João Saviotti

Rara será a existência que actualmente se não deixe balouçar ao sabor das correntes, cada hora impelida a um rumo diferente pela última notícia que se leu ou pela última conversa que se teve. Sem fim a que aponte, a alma da maioria dos homens flutua na vida com a fraca vontade e a gelatinosa consistência das medusas; um dia se sucede a outro dia sem que o viver represente uma conquista, sem que a manhã que renasce seja uma criação do nosso próprio espírito e não o fenómeno exterior que passivamente se aceita e que por hábito nos impele a um determinado número de acções; desfez-se a crença em que o mundo é formado pelo homem, em que o reino de Deus terá de ser obtido, não como uma dádiva dependente do arbítrio de um ente superior, mas como a paciente, firme, contínua construção dos seus futuros habitantes. Daí a facilidade das entregas aos que ainda aparecem com dedos de escultor, daí os desânimos e as indiferenças, daí o supor-se que apenas surgimos no mundo para nos garantirmos, diariamente, um almoço, um jantar e uma casa; perdem-se as almas nas tarefas inferiores do existir, nenhuma grande aspiração de beleza, de liberdade e de amor guia através das noites obscuras e dos cerrados nevoeiros aqueles mesmo que nasceram mais fortemente desprendidos das animalidades primitivas.Há como que o prazer da desordem, da irresolução, do pensamento confuso; quase se tornou censurável marchar com a regularidade dos astros, divinizou-se o acto imprevisível e o gesto que vem contrariar o do momento anterior; ninguém pára um instante para reflectir, coordenar as ideias, eliminar as que se mostram incapazes de em acordo se ligarem ao que de seguro ficou estabelecido. A fala medida e o silêncio que fazem possível o diálogo e pelo diálogo a viagem aos bordos mais longínquos do universo cederam o lugar a um discurso plural que deve ser aos ouvidos de Deus como zumbido importuno de insecto que teima em passar através da vidraça; quebra-se a barreira ateniense da harmonia e a barreira espartana da vontade e dá-se livre curso aos ímpetos, aos repentes, aos caprichos; troca-se o manso fluir dos grandes rios, a ondulação poderosa e calma do mar largo pelos cachões e as espumas das correntes que se entrechocam e batem. Que loucura vos tomou, meus irmãos homens? Urge que apeeis o Acaso do lugar divino que lhe destes, que lanceis, como diques e caminho da vida, as fortes linhas da inteligência ordenadora e da vontade, que acima de tudo se habitue a vossa alma a construir a existência com a pureza, o nítido recorte e a querida abstenção da estrofe de um poema.
Agostinho da Silva, in 'Textos e Ensaios Filosóficos'

terça-feira, 17 de junho de 2008

domingo, 15 de junho de 2008

That's hot

Estoy hasta la gorra







E tipo... eu não sou da PJ
"Se eu pudesse trincar a terra toda E sentir-lhe um paladar, Seria mais feliz um momento...
Mas eu nem sempre quero ser feliz. É preciso ser de vez em quando infeliz Para se poder ser natural...Nem tudo é dias de sol, E a chuva, quando falta muito, pede-se.

Por isso tomo a infelicidade com a felicidade Naturalmente, como quem não estranha Que haja montanhas e planícies E que haja rochedos e erva... O que é preciso é ser-se natural e calmo Na felicidade ou na infelicidade, Sentir como quem olha, Pensar como quem anda, E quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre, E que o poente é belo e é bela a noite que fica... "
Alberto Caeiro in 'O Guardador de Rebanhos'
"Não julgues. A vida é um mistério, cada um obedece a leis diferentes. Conheces porventura a força das coisas que os conduziram, os sofrimentos e os desejos que cavaram o seu caminho? Supreendestes porventura a voz da sua consciência a revelar-lhes em voz baixa o segredo do seu destino? Não julgues; olha o lago puro e a água tranquila onde vêm quebrar-se as mil vagas que varrem o universo... É preciso que aconteça tudo aquilo que vês. Todas as ondas do oceano são precisas para levar ao porto o navio da verdade. Acredita na eficácia da morte do que queres para participares do triunfo do que deve ser."

from Jeanne Vietinghoff in "In Memoriam" by Marguerite Yourcenar

sábado, 14 de junho de 2008


A temática nasceu-me na cabeça como um musgo em terreno de fonte. Ver as milhares de bandeiras esticadas por capital e meia ajudou, em especial aquelas que têm as cores trocadas. O provincianismo, ignorância e a crua afronta a um dos símbolos mais marcantes de qualquer país que se preze, despertou-me o interesse. Encontrei na minha dedicada pesquisa um delicioso livro que julgava perdido, de um letrado repleto de colesterol, que aqui copio com fé para vos mostrar com cirúrgica precisão o que sinto sobre o tema sem nunca o sequer ter escrito. Os anos voam, e este homem é ainda o auge.

"Se, por um daqueles artifícios cómodos, pelos quais simplificamos a realidade com o fito de a compreender, quisermos resumir num síndroma o mal superior português, diremos que esse mal consiste no provincianismo. O facto é triste, mas não nos é peculiar. De igual doença enfermam muitos outros países, que se consideram civilizantes com orgulho e erro. O provincianismo consiste em pertencer a uma civilização sem tomar parte no desenvolvimento superior dela — em segui-la pois mimeticamente, com uma subordinação inconsciente e feliz. O síndroma provinciano compreende, pelo menos, três sintomas flagrantes: o entusiasmo e admiração pelos grandes meios e pelas grandes cidades; o entusiasmo e admiração pelo progresso e pela modernidade; e, na esfera mental superior, a incapacidade de ironia. Se há característico que imediatamente distinga o provinciano, é a admiração pelos grandes meios. Um parisiense não admira Paris; gosta de Paris. Como há-de admirar aquilo que é parte dele? Ninguém se admira a si mesmo, salvo um paranóico com o delírio das grandezas. Recordo-me de que uma vez, nos tempos do "Orpheu", disse a Mário de Sá-Carneiro: "V. é europeu e civilizado, salvo em uma coisa, e nessa V. é vítima da educação portuguesa. V. admira Paris, admira as grandes cidades. Se V. tivesse sido educado no estrangeiro, e sob o influxo de uma grande cultura europeia, como eu, não daria pelas grandes cidades. Estavam todas dentro de si".O amor ao progresso e ao moderno é a outra forma do mesmo característico provinciano. Os civilizados criam o progresso, criam a moda, criam a modernidade; por isso lhes não atribuem importância de maior. Ninguém atribui importância ao que produz. Quem não produz é que admira a produção. Diga-se incidentalmente: é esta uma das explicações do socialismo. Se alguma tendência têm os criadores de civilização, é a de não repararem bem na importância do que criam. O Infante D. Henrique, com ser o mais sistemático de todos os criadores de civilização, não viu contudo que prodígio estava criando — toda a civilização transoceânica moderna, embora com consequências abomináveis, como a existência dos Estados Unidos. Dante adorava Vergilio como um exemplar e uma estrela, nunca sonharia em comparar-se com ele; nada há, todavia, mais certo que o ser a "Divina Comédia" superior à "Eneida". O provinciano, porém, pasma do que não fez, precisamente porque o não fez; e orgulha-se de sentir esse pasmo. Se assim não sentisse, não seria provinciano. É na incapacidade de ironia que reside o traço mais fundo do provincianismo mental. Por ironia entende-se, não o dizer piadas, como se crê nos cafés e nas redações, mas o dizer uma coisa para dizer o contrário. A essência da ironia consiste em não se poder descobrir o segundo sentido do texto por nenhuma palavra dele, deduzindo-se porém esse segundo sentido do facto de ser impossível dever o texto dizer aquilo que diz. Assim, o maior de todos os ironistas, Swift, redigiu, durante uma das fomes na Irlanda, e como sátira brutal à Inglaterra, um breve escrito propondo uma solução para essa fome. Propõe que os irlandeses comam os próprios filhos. Examina com grande seriedade o problema, e expõe com clareza e ciência a utilidade das crianças de menos de sete anos como bom alimento. Nenhuma palavra nessas páginas assombrosas quebra a absoluta gravidade da exposição; ninguém poderia concluir, do texto, que a proposta não fosse feita com absoluta seriedade, se não fosse a circunstância, exterior ao texto, de que uma proposta dessas não poderia ser feita a sério. A ironia é isto. Para a sua realização exige-se um domínio absoluto da expressão, produto de uma cultura intensa; e aquilo a que os ingleses chamam detachment — o poder de afastar-se de si mesmo, de dividir-se em dois, produto daquele "desenvolvimento da largueza de consciência" em que, segundo o historiador alemão Lamprecht, reside a essência da civilização. Para a sua realização exige-se, em outras palavras, o não se ser provinciano. O exemplo mais flagrante do provincianismo português é Eça de Queirós. É o exemplo mais flagrante porque foi o escritor português que mais se preocupou (como todos os provincianos) em ser civilizado. As suas tentativas de ironia aterram não só pelo grau de falência, senão também pela inconsciência dela. Neste capítulo, "A Relíquia", Paio Pires a falar francês, é um documento doloroso. As próprias páginas sobre Pacheco, quase civilizadas, são estragadas por vários lapsos verbais, quebradores da imperturbabilidade que a ironia exige, e arruinadas por inteiro na introdução do desgraçado episódio da viúva de Pacheco. Compare-se Eça de Queirós, não direi já com Swift, mas, por exemplo, com Anatole France. Ver-se-á a diferença entre um jornalista, embora brilhante, de província, e um verdadeiro, se bem que limitado, artista. Para o provincianismo há só uma terapêutica: é o saber que ele existe. O provincianismo vive da inconsciência; de nos supormos civilizados quando o não somos, de nos supormos civilizados precisamente pelas qualidades por que o não somos. O princípio da cura está na consciência da doença, o da verdade no conhecimento do erro. Quando um doido sabe que está doido, já não está doido."


Fernando Pessoa in 'Portugal entre passado e futuro'
"E de vez em quando descer à gravidade de mim, à profundidade do meu ser. E verificar então que tudo se transfigura. Que é que significa este garatujar quase gratuito, este riso superficial, todo este modo de ser menor? A melancolia profunda, tão de dentro que ela se iguala à alegria sem medida. Espaço rarefeito de nós, é o lugar da grandeza do homem, do que é nele fundamental, o lugar do aparecimento de Deus. Mas Deus não me aparece - aparece apenas a inundação que me vem da infinita beatitude, da grandeza e do assombro. Nós vivemos habitualmente à superfície de nós, ligados ao que é da vida imediata, enredados nas mil futilidades com que se nos enchem os dias. Mas de vez em quando, o abismo da natureza, um livro ou uma música que dos abismos vem, abre-nos aos pés um precipício hiante e tudo se dilui num sentir que está antes e abaixo e mais longe que esse tudo. Há uma harmonia que em nós espera por um som, um acorde, uma palavra, para imediatamente se organizar e envolver-nos. E aí somos verdade para a infinidade dos séculos."
Vergílio Ferreira, in 'Conta-Corrente 3'
'Estamos perto de acordar, quando sonhamos que sonhamos.'

Novalis

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Travel trip

Viêt Nam Công Hòa Xa Hôi Chu' Nghiã.

domingo, 8 de junho de 2008

sábado, 7 de junho de 2008

Travel trip


Atoll in the south pacific

sexta-feira, 6 de junho de 2008

quinta-feira, 5 de junho de 2008

"(...) 0 mais corajoso homem entre nós tem medo de si próprio. A mutilação do selvagem sobrevive tragicamente na autonegação que nos corrompe a vida. Somos castigados pelas nossas renúncias. Cada impulso que tentamos estrangular germina no cérebro e envenena-nos. O corpo peca uma vez, e acaba com o pecado, porque a acção é um modo de expurgação. Nada mais permanece do que a lembrança de um prazer, ou o luxo de um remorso. A única maneira de nos livrarmos de uma tentação é cedermos-lhe. Se lhe resistirmos, a nossa alma adoece com o anseio das coisas que se proibiu, com o desejo daquilo que as suas monstruosas leis tornaram monstruoso e ilegal. Já se disse que os grandes acontecimentos do mundo ocorrem no cérebro. É também no cérebro, e apenas neste, que ocorrem os grandes pecados do mundo."
Oscar Wilde, in 'O Retrato de Dorian Gray'

quarta-feira, 4 de junho de 2008

like a train across the valley

terça-feira, 3 de junho de 2008

segunda-feira, 2 de junho de 2008

domingo, 1 de junho de 2008



“ Não pretendo realizar uma ambição incógnita mas apenas exprimir textualmente o que tenho prendido nos confins da mente. Aliás, creio que isto não é mais do que uma insolência para comigo e por isso, se a compreensão for inexistente e te estimular à crítica, pondera o egoísmo patente nesta carta e resigna-te.
Escrevo do anonimato porque me é mais fácil. Deixo desde já claro que nenhum mal te desejo e está ainda mais translúcida a minha recusa em provocar-mo. Sempre que se cria um filtro entre nós e o mundo físico, todas as insuportabilidades se transformam e é mais pacífico o discurso que se dispõe a fazer. Inexiste o julgamento alheio, coisa cruel, e reina uma artificial serenidade que apesar de aparente é satisfatória e serve a ocasião.
Queria muito ter coerência neste discurso embora tal se tenha demonstrado uma tarefa insuficiente a muitos níveis. Compreendo cada vez mais a dificuldade em demonstrar a sensação quando é pressentido, ao mesmo tempo, a expressão tacanha e diminuta que a palavra transmite quando verbalizada, comparativamente
Há estados que não são passíveis de formatar ou exigir-lhes justificação. Circunstancias que nos caem ao colo, que perduram, que nunca ambicionámos e que ainda assim, detêm um odor tão familiar que equacionamos a hipótese de terem estado sempre presentes nalguma parte do nosso inconsciente, adormecidas. Condições indomáveis, feitas de toxinas, que nos tomam de assalto e estilhaçam a lógica.
Idealizei-te durante uma parcela de tempo que não sei quantificar com precisão, e nutro hoje uma certa vergonha por isso. O que te queria dizer naquela altura não cabe nesta folha. Foste um colosso entre o meu raciocínio e a minha razão, senti-te o motivo de todos os meus passos no passado. Vivi uma atracção indomável, reacções químicas muito superiores à minha decisão, coisa que ainda agora acontece mas com um pouco mais de conformação – sei que não me pertencem, sinto que o teu percurso é outro.
Há muito que o sonho já desertou - em mim, sei que sempre o vivi. Tive sensações que se firmaram cansaço, que ocuparam toda a extensão do espírito e agora que as penso outra vez, o desejo é exactamente o mesmo mas a ambição é impossível. És tu quem o meu pensar vai transportando. Crescer por dentro, cá a trás, foi a conclusão desta real experiencia. Faltei-me em tantos momentos que olhando para tudo o que julgo termos passado, pressinto um desconhecido. Acreditar em nós foi um conforto, uma derrota que desafiou. Não vou escrever-te o quanto me arrependo, não afirmo que perdi a cadencia nem o compasso. Apenas tenho agora uma estranha sensação, meia torta e meia direita, que, de qualquer das maneiras, as coisas vão dar certas a um mesmo ponto. Desejo muito que te seja possibilitada a oportunidade de sentires o mesmo porque ainda que parte de uma ilusão é um milagre instantâneo, onde a pergunta se dissolve muito antes de qualquer resposta. Exprimo um decidido adeus por nunca teres sido quem eu gosto de pensar que és e vou limitar a minha saída à mesma forma da entrada: sem nunca ter aberto a porta e sem te entregar qualquer chave. "

Frank Green, in 'Diaporese'