sexta-feira, 28 de março de 2008

"Os domínios que temos sobre os outros distinguem-se da nossa influência para os determinar em atentados de certeza, que poucas há; monopólio Vs perfuração.
Compreende-se esta diferença na aptidão para, mesmo não o desejando ou querendo, influenciar figura alheia a adoptar padrões, comportamentos ou acções que são nossas, de quem as oferece, e não para os fazer crer que há verdades incontornáveis e inequívocas, função das religiões. Ter um domínio ou ofertar uma certeza dividem-se facilmente como possuir um carácter ou construir um. De tudo um pouco, há cernes que ocupam espaços porque lhes pertencem. Outros porém, frágeis e apaixonados, adoptam figurações alheias, na insondável esperança de por fim as deter e as concentrar suas, julgando-as e controlando-as. Por certo, só quem as sabe unidas a um ser, consegue aceitar tal situação, sem dor ou raiva: espalhar um modo, como uma praga, é figura dos bárbaros, dos que pouco entendem sobre civilização, grafismo das explorações Incas ou das colonializações cristãs. Arquitectar uma acção, afunilar, funciona um pouco como a publicidade: não explicita uma vontade de dar mas é claro que presenteia um exponencial desejo em ser para além de nós mesmo. - Cria a vontade de ter. Ter mais.
O que é completamente patético."
Frank Green in, 'Diaporese'

that's hot


"...gere da forma que achares melhor. Mas lembra-te que há uma altura em que a curva da produtividade desce quando o aumento de cansaço aumenta, exponencialmente, face ao crescimento do conhecimento que se retém do que se está a ler, que só rende linearmente..."

folho!

(when you think you know... you have no idea)

terça-feira, 25 de março de 2008

“Quando está assim, desiludido com o mundo, a primeira coisa que e lembra é passar pela vizinha galinheira. Sabe que a vai encontrar a fazer malha e a balançar no cadeirão matriarcal à sombra de galinhas e de patos degolados. Malha para as crianças desvalidas, é o passatempo da mulher. Sobrevoada por cadáveres depenados, produz gorros, casaquinhos e abafos de berço numa lã angorá tão mimosa que faz lembrar a penugem dos pintainhos, um dois três lança, um dois três mate, então por cá, vizinho? O Corvo salta o degrau, e ela, sem parar de balouçar, estende o comprido gancho com que desprende os galináceos lá no tecto e enfia-o no balde dos desperdícios. Tira de lá o seu pedacinho de enxúndia, a sua sobra de tripas, a sua crista de galo, que são primores que o Corvo Taberneiro muito aprecia. Enquanto ele come, a lastimosa suspira e conta trivialidades – «Ai», diz ela. O ai da galinheira serve para tudo: se lhe sai do coração, é um lamento, mas também pode ser rejeição enojada, quando dito com um voltar de cabeça, ou vislumbre de espanto divertido, se os bigodes indicarem que sorri. «Ai, menino», diz ela às vezes para o Corvo em momentos de maior intimidade. Apesar de lastimosa, dá realmente gosto ouvi-la conversar com muitas malhas pelo meio porque é senhora dum coração universal que abrange todas as criancinhas desamparadas e todos os animais da natureza com excepção das aves de capoeira que, palavras dela, não reconhecem quem as trata nem nunca deram lucro ao comércio. A esses bichos junta o porco que também não é da sua devoção mas por outras razões. Na realidade, o porco, o suíno, como ela prefere chamar-lhe, um dois três lança, um dois três mate, ai, o suíno é um animal campesino que não olha a luz do sol. Não tem ideologia, o suíno. Tem o chamado olho porcino e se ainda guarda algum respeito por Deus é porque nunca o encontrou.”
José Cardoso Pires in ' A República dos Corvos'
em funeral de cão gato não chora

segunda-feira, 24 de março de 2008

segunda-feira, 17 de março de 2008

"Toda a noite, e pelas horas fora, o chiar da chuva baixou. Toda a noite, comigo entredesperto, a monotonia liquida me insistiu nos vidros. Ora um rasgo de vento, em ar mais alto, açoitava, e a água ondeava de som e passava mãos rápidas pela vidraça; ora com som surdo só fazia sono no exterior morto. A minha alma era a mesma de sempre, entre lençois como entre gente, dolorosamente consciente do mundo. Tardava o dia como a felicidade - áquela hora parecia que também indefinidamente.Se o dia e a felicidade nunca viessem! Se esperar, ao menos, pudesse nem sequer ter a desilusão de conseguir. "

travel trip

Hooverphonic

sexta-feira, 14 de março de 2008

The Corrections

travel trip

Papua Indonésia
"De todas as paixões a que nos é mais incógnita é a preguiça. É a mais ardente e a mais maligna de todas, ainda que a sua violência seja imperceptível e que os seus danos se escondam. Se observarmos com atenção o seu poder, notaremos que ela se torna sempre mestra dos nossos sentimentos, dos nossos interesses e dos nossos desejos. Ela é a demora que tem a força para fazer parar os maiores navios, é uma calmaria mais perigosa para as grandes empresas do eu do que os bancos de areia e do que as maiores tempestades. O repouso dado pela preguiça é uma sedução secreta da alma, que pára de repente as lutas mais inflamadas e as resoluções mais obstinadas. Enfim, para se dar uma verdadeira ideia desta paixão, é preciso dizer que a preguiça é como que um estado de beatitude da alma, consolando-a das suas perdas e ocupando o lugar de todos os bens."
François La Rochefoucauld, in 'Reflexões'

quarta-feira, 12 de março de 2008

Néné, a alta e orgulhosa tia-avó de Mimoso, o osgo, recomenda:

terça-feira, 11 de março de 2008

The white stripes

"Quanto mais impessoais e afastados do nosso núcleo se situarem as coisas pelas quais nos interessamos, menos nos preocupa a perspectiva de que toda nossa vida pode chegar ao fim de um momento para o outro, e nada me convence que, decompondo-se exponencialmente o nosso organismo, a nossa mente sobreviva a este percurso epopeico, estando ainda assim condenada a existir de simples desdobramentos retóricos – deja vu? Interesse pelo desinteresse. É arbitrário cortar a vida em fatias e, de qualquer modo, uma situação tão contraditória em si mesma como esta, de separar, retirar e comer momentos de ocupação espacial, não podia deixar de conduzir a uma nova tomada de consciência. "
Frank Green in ' Diaporese'

segunda-feira, 10 de março de 2008

quarta-feira, 5 de março de 2008

Amy Winehouse

travel trip

CAMOGLI&CAPRI

that's hot

'Não será um empreendimento excêntrico pretender extrair dos actos de Napoleão a prova da sua existência? Porque, se é verdade que a sua existência explica os seus actos, os seus actos não podem provar a sua existência, a menos que esta tenha já sido implicitamente posta na palavra sua. Além disso, na medida em que Napoleão não é senão um indivíduo, não existe entre os seus actos e ele relação absoluta tal que nenhum outro indivíduo seria capaz das mesmas acções: é talvez essa a razão que me impede de concluir dos actos para a existência. Com efeito, se digo que os actos são de Napoleão, então a prova é supérflua, pois que já me referi a ela; mas se ignoro o nome do seu autor, como provar pelos próprios actos que eles são efectivamente de Napoleão? Não posso ultrapassar a afirmação, inteiramente abstracta, de que procedem de um grande general, etc.Pelo contrário, entre Deus e os seus actos existe uma relação absoluta, porque Deus não é um nome, mas um conceito, e é talvez por isso que a sua essentia involvit existentiam. Assim, os actos de Deus só Deus pode praticá-los; muito bem; mas quais são então os actos de Deus? De actos imediatos, a partir dos quais possa provar a sua existência, não vejo o menor vestígio, a menos que admita que a acção da sua sabedoria da natureza, da sua bondade ou da sua sabedoria na Providência entre pelos olhos dentro. Mas, com isto, não abro eu a porta, pelo contrário, a tentações terríveis, tentações tais que não é possível superá-las a todas? Não, de tal ordem de considerações não consigo tirar verdadeiramente a prova da existência de Deus, e, mesmo que o tentasse, jamais conseguiria levá-lo a termo, enquanto me veria forçado a viver sempre em suspenso, com o receio de que me sucedesse de repente alguma coisa tão terrível como a perda das minhas pequenas provas.'
Soren Kierkegaard, in "Mitos Filosóficos

Seu Jorge