quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

"O caminho para se tornar um homem de valor passa por saber rodear-se. É muito eficaz o trato humano; comunicam-se os costumes e os gostos, nele se transmite o génio e também o engenho, sem sentir. Por isso, procure o ágil juntar-se ao comedido, e assim os demais génios; com isso conseguirá a temperança sem constrangimento. É de grande destreza saber temperar-se. A alternância de contrários aformoseia o universo e o sustenta, e, se causa harmonia no que é natural, maior ainda no que é moral. Valha-se dessa sagaz advertência na escolha de amigos e de fâmulos, pois com a comunicação dos extremos se há-de ajustar um meio razoável."

Baltasar Gracián y Morales, 'A Arte da Prudência'


“Toda a minha vida consciente fora norteada por aquela ideia: “Tu não te pertences!” “Tu não te pertences!” Mal espigara em adolescência, a frase, colhida no convívio dos camaradas, nos comícios das associações, nas brochuras vermelhas lidas sofregamente, instalara-se no meu espírito, apossara-se de mim, orientando-me os movimentos. Quase todos nós, fôssemos espíritos elementares ou já colhêssemos alguns frutos nos pomares do alfabeto, obedecíamos a igual crença. Não nos pertencíamos a nós, mas ao nosso ideal, aos espoliados, à Humanidade que sofria, à criação dum mundo novo, onde a justiça estivesse de pé, a colmeia vivesse em igualdade e o amor aplainasse a obra feita, durante um ror de séculos, por construtores de abismos”.
Ferreira de castro,“Os Fragmentos”

"Pelo facto de uma situação de crise (por exemplo, os vícios de uma administração, a corrupção e o favoritismo em agremiações políticas ou eruditas) ser descrita com forte exagero, essa descrição perde, na verdade, o seu efeito junto das pessoas sensatas, mas actua tanto mais fortemente sobre as que o não são (as quais teriam permanecido indiferentes ante uma exposição bem comedida). Como estas, porém, constituem uma significativa maioria e albergam em si uma maior força de vontade e um gosto mais impetuoso pela acção, esse exagero torna-se pretexto para inquéritos, punições, promessas, reorganizações. É nessa medida que é rentável descrever situações críticas em termos exagerados."
Nietzsche, ‘Humano, Demasiado Humano’

terça-feira, 29 de janeiro de 2008


E = mc2

"Quando, após passarmos por um estreito desfiladeiro, de repente emergimos num trecho de terreno elevado, onde o caminho se divide e as mais belas paisagens se desdobram por todos os lados, podemos parar por um momento e considerar em que direção deveremos começar a orientar os nossos passos. É esse o nosso caso, agora que ultrapassamos a primeira interpretação de um sonho. Encontramo-nos em plena luz de uma súbita descoberta. Não se devem assemelhar os sonhos aos sons desregulados que saem de um instrumento musical atingido pelo golpe de alguma força externa, e não tocado pela mão de um instrumentista ; eles não são destituídos de sentido, não são absurdos; não implicam que uma parcela da nossa reserva de representações esteja adormecida enquanto outra começa a despertar. Pelo contrário, são fenómenos psíquicos de inteira validade, realizações de desejos; podem ser inseridos na cadeia dos actos mentais inteligíveis de vigília; são produzidos por uma atividade mental altamente complexa. Contudo, mal nos começamos a alegrar com esta descoberta, e já somos assaltados por uma torrente de questões. Se, como nos diz a interpretação dos sonhos, um sonho representa um desejo realizado, qual a origem da notável e enigmática forma em que se expressa a realização de um desejo? Por que alteração passaram os pensamentos oníricos antes de se transformar no sonho manifesto que recordamos ao despertar? Como se dá essa alteração? Qual a fonte do material que se modificou, transformando-se em sonho? Qual a fonte das numerosas peculiaridades que se devem observar nos pensamentos oníricos, tais como, por exemplo, o facto de poderem ser mutuamente contraditórios? Pode um sonho dizer-nos algo de novo sobre nossos processos psíquicos internos? Pode o seu conteúdo corrigir opiniões que sustentamos durante o dia? Proponho que, por ora, deixemos de lado todas essas questões e sigamos mais adiante, ao longo de uma trilha específica. Averiguamos que um sonho pode representar a realização de um desejo. A nossa primeira preocupação deve ser indagar se essa é uma característica universal dos sonhos ou se, por acaso, terá sido meramente o conteúdo do sonho específico que foi o primeiro a ser por nós analisado. Pois, mesmo que estejamos dispostos a constatar que todo sonho tem um sentido e um valor psíquico, deve permanecer em aberto a possibilidade de que esse sentido não seja o mesmo em todos os sonhos. Nosso primeiro sonho foi a realização de um desejo; um segundo poderia revelar-se como um temor realizado; o conteúdo de um terceiro talvez fosse uma reflexão, ao passo que um quarto poderia apenas reproduzir uma lembrança. Encontraremos além desse outros sonhos impregnados de desejo? Ou talvez não haja outros sonhos senão os relativos ao desejo?
É fácil provar que os sonhos muitas vezes se revelam, sem qualquer disfarce, como realizações de desejos, de modo que talvez pareça surpreendente que a linguagem dos sonhos não tenha sido compreendida há muito tempo. Por exemplo, há um sonho que posso produzir em mim mesmo quantas vezes quiser - experimentalmente, por assim dizer. Se à noite eu comer anchovas ou azeitonas, ou qualquer outro alimento muito salgado, ficarei com sede de madrugada, e a sede me acordará. Mas o meu despertar será precedido por um sonho, sempre com o mesmo conteúdo, ou seja, o de que estou a beber. Sonho estar a engolir água em grandes goles, e ela tem um delicioso sabor a que nada senão uma bebida fresca pode igualar-se quando se está sedento. Então acordo e tenho de tomar uma bebida de verdade. Esse sonho simples é ocasionado pela sede da qual me consciencializo ao acordar. A sede dá origem a um desejo de beber, e o sonho mostra-me esse desejo realizado. Ao fazê-lo, ele executa uma função, que seria fácil adivinhar. Durmo bem e não costumo ser acordado por nenhuma necessidade física. Quando consigo aplacar a minha sede, sonhando que estou bebendo, não preciso despertar-me para saciá-la. Esse é, portanto, um sonho de conveniência. O sonhar toma o lugar da acção, como o faz muitas vezes em outras situações da vida. Infelizmente, a minha necessidade de água para aplacar a sede não pode satisfazer-se num sonho da mesma forma que se satisfaz a minha sede de vingança contra meu amigo Otto e o dr. M.; mas a boa intenção está presente em ambos os casos. Não faz muito tempo, esse mesmo sonho apresentou algumas modificações. Eu já sentira sede antes mesmo de adormecer e esvaziara um copo de água que estava na mesa ao lado da cama. Algumas horas depois, durante a madrugada, tive um novo ataque de sede, e isso teve resultados inconvenientes. Para me servir de água, eu teria de me levantar e apanhar o copo que estava na mesa ao lado da cama de minha esposa. Assim, tive um sonho apropriado, em que a minha mulher me dava de beber de um vaso; esse vaso era uma urna cinerária etrusca que eu trouxera de uma viagem à Itália e de que mais tarde me desfizera. Mas sua água tinha um sabor tão salgado (evidentemente por causa das cinzas da urna) que acordei. E de se notar a forma conveniente como tudo se organizava nesse sonho. Visto que sua única finalidade era realizar um desejo, o sonho poderia ser completamente egoísta. O amor ao comodismo e à conveniência não é realmente compatível com a consideração pelas outras pessoas (...) "
A interpretação dos sonhos, Freud
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Um aeroporto cheio de gente significa novos inícios ambiciosos. Pode ser que algumas idéias têm estado em crescimento na sua mente e que chegou a hora de pô-las em marcha. Novas relações, novas dimensões, diferentes horizontes, uma viagem....

Sonhar com uma malformação representa aspectos não desenvolvidos da sua vida aos quais não presta atenção. Nega-se a reconhecer que estes aspectos podem afectar o seu rendimento e sua criatividade

Se vê uma pessoa sem cara no seu sonho, significa que ainda procura a sua própria identidade - precisa descobrir quem é. É possível que não saiba muito bem como se dar a compreender, ou as suas emoções, a algumas pessoas.
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segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

I'm clean

(silêncio e constrangimento)

"- Olá, o meu nome é Mimoso,…

- Olá Mimoso! (coro)

- … e faz hoje 24 semanas que não dou em tectos. "
...
Antes da vossa estereotipada ignorância discriminatória estimular um refluxo de vómito devido à foto tipo pass de Mimoso, o osgo, iluminem vossa preta mente com mais um escarro de fulcral informação onde Mimoso nos dá a todos uma lição de vida.

Para começar, as patas de Mimoso funcionam no vácuo.
"Vácuo1, a [válkwu, -a]. Adj. (do lat. vacuus ‘vazio’). 1. Fís. Que não contém, não está ocupado, ou não é preenchido por matéria ou coisa alguma. 2. Que se apresenta desprovido de contéudo.(...)"
As simpáticas palmas de Mimoso formam ligações intermoleculares por forças de van der Waals (forças eléctricas relativamente fracas que atraem entre si moléculas que são em média electricamente neutras).Os dedos de Mimoso estão munidos de largas escamas imbricantes, que por sua vez contêm uma série de lamelas paralelas. Cada lamela está coberta com um campo de cerdas, ou sétulas, que são projecções microscópicas da pele, terminando em forma de espátula e que variam em comprimento, de espécie para espécie. Nos osgos com a categoria de Mimoso, medem entre 100 a 150 micrómetros, aderindo às superfícies enfraquecendo as forças entre moléculas, o que resulta numa ligação.
Permitam-me ser gráfico, como num processo casapiano:

Para tal conexão ser temporária, Mimoso tem de através de válvulas reduzir a pressão sanguínea dessa pata, isolando partes do seu sistema circulatório, encolhendo os dedos e diminuindo a quantidade de sangue das cavidades, obrigando ao desligamento das ligações aderentes.
Se agarrados destes conseguem...

domingo, 27 de janeiro de 2008

"A suposição de que a identidade de uma pessoa transcende, em grandeza e importância, tudo o que ela possa fazer ou produzir é um elemento indispensável da dignidade humana. (...) Só os vulgares consentirão em atribuir a sua dignidade ao que fizeram; em virtude dessa condescendência serão «escravos e prisioneiros» das suas próprias faculdades e descobrirão, caso lhes reste algo mais que mera vaidade estulta, que ser escravo e prisioneiro de si mesmo é tão ou mais amargo e humilhante que ser escravo de outrem."
Hannah Arendt, 'A Condição Humana'

sábado, 26 de janeiro de 2008

Vamos todos aprender a compreender as pessoas felizes que dão imenso em dopaminas tentando simultaneamente ignorar o grau avançado da minha demência que possibilitou a postagem desta exemplar mensagem informativa.
Os problemas mentais que afectam o esquizofrénico têm origem electrobioquímica, situando-se ao nível de uma disfunção da actividade dos neurotransmissores em algumas zonas cerebrais. Em particular, as anomalias presentes nos esquizofrénicos estariam no controlo da produção de dopamina nos pontos de contacto (que não se tocam) entre os neurónios (a fenda sináptica). Diz que ficam 'neuróticos'... A dopamina é uma substância que está presente no cérebro e que, juntamente com outros neurotransmissores (ou então não), tem por missão transmitir o impulso nervoso de uma célula a outra célula do cérebro. De A, para todo um B. Estes sistemas de transmissão no interior do sistema nervoso são fundamentais, já que a actividade de todo o sistema nervoso se baseia na comunicação de determinadas mensagens de um neurónio para outro. A dopamina, em especial, é fundamental para o controlo e execução de cada movimento voluntário, desempenhado um papel importante nos mecanismos da memória , sendo segregada pelo neurónio na,pela,durante a ou antes da sinapse, onde se combina com seus receptores específicos nos neurónios adjacentes - neuroreceptor sintetizado por certas células nervosas que age em regiões do cérebro promovendo, entre outros efeitos, a sensação de prazer e a motivação: ela é o auge para todos nós e deveria dar-se disso aos quilos e ao preço da chuva, que é de graça e oferecida, ainda. Corre o rumor que há dela na cocaína. Não a chuva. A Dopa. Dopamina. Depois de sintetizada, é armazenada dentro de vesículas sinápticas. Quando chega um impulso eléctrico na sinapse, essas vesículas dirigem-se para a periferia do neurónio, membrana pré-sináptica, e libertam o seu conteúdo na fenda sinaptica. É fundido. A Dopamina aí libertada atravessa essa fenda e liga-se aos seus receptores específicos na membrana do próximo neurónio. O neurónio que secreta a Dopamina é chamado de Neurónio Pré-Sinaptico, porque a recebe antes da sinapse (hem? e esta?) e o que recebe a dopamina é chamado de Neurónio Pós-Sinaptico (até parece ficção! Pós-sinaptico porque é depois! Folho!). Uma série de reacções ocorre quando a Dopamina chega aos seus receptores (receptores dopaminérgicos) no neurónio pós-sináptico: alguns iões entram e saem desse neurónio e algumas enzimas são libertadas ou inibidas. Giro. Após cumprir sua função (estimular o neurónio seguinte, o amigo B) a Dopamina é recapturada novamente pelo neurónio Pré-Sinaptico (o mesmo que a secretou) através de proteínas chamadas de transportadores de Dopamina, carangueijo, localizadas neste mesmo neurónio, voltando a ser a virgem lá do bordel. Isto ele há coisas...

"A filosofia tem de admitir que não é nela, mas sim na vida, que o homem deve encontrar as suas maiores satisfações; não na biblioteca ou na cela monástica, mas na satisfação dos seus instintos mais antigos. A felicidade é inconsciente; só nos bafeja quando somos naturais; se nos detemos a analisá-la, desaparece, porque não é natural determo-nos a analisar uma coisa. Se o intelecto contribui para a felicidade não o faz como fonte primária, mas sim como meio de coordenação, como instrumento harmonizador dos desejos. Neste sentido o intelecto pode ser um precioso auxiliar; e de contrário de nada valeria realizarmos todos os nossos fins, porque os desejos cancelar-se-iam uns aos outros, dando como resultado uma triste futilidade."
Will Durant, "Filosofia da Vida"

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008


"A ordem é o sinal e não a causa da existência. Da mesma maneira que o plano do poema é sinal de que ele está acabado e marca da sua perfeição. Não é em nome de um plano que tu trabalhas, tu trabalhas para obter um plano. Mas aquelas criaturas dizem dos alunos: «Olhem para esta grande obra e reparem na ordem que revela. Fabriquem-me, primeiro que tudo, uma ordem, e a vossa obra será grande». Uma obra dessas não passará de esqueleto sem vida e detrito de museu. Não tropeces na tua linguagem. Se impuseres a vida, fundarás a ordem; se impuseres a ordem, imporás a morte. A ordem pela ordem é caricatura da vida."
Antoine de Saint-Exupéry, "Cidadela"
“ O que grita é o horizonte da lua, o que a circunda, o que se esconde por trás - ela já me cansa, me oferece tédio, instintiva e gratuitivamente apelativa. Está ali desde sempre, cada vez mais encolhida, criada quando foi também destruída, reorganizou-se pela gravidade. E tudo o mais já se percebe: método de criação, gota de inspiração, partícula sonhadora que paira num espectro reflectido de luz, coisa que lhe é dada. “

Frank Green, "Diaporese"
"O pai sobrevive como o deus, na adoração do qual os pecadores se arrependem, de modo a poderem continuar a pecar, enquanto os novos pais (e irmãos) asseguram as supressões do prazer que são necessárias para preservar o seu domínio e a sua organização do grupo. Todos os seus membros devem obedecer ao tabu, se querem manter o seu domínio. A partir daí, a represssão impregna a vida dos próprios opressores e uma parte da sua energia instintual torna-se disponível para ser sublimada em trabalho."
Marcuse, "Eros et civilisation"

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008


"Há certas pessoas de certo estofo ou carácter com as quais nunca nos devemos meter, das quais não nos devemos queixar senão o menos que pudermos, contra as quais não é permitido termos razão. Entre duas pessoas que tiveram uma violenta discussão, na qual uma tem razão e a outra não, o que a maior parte das pessoas que assistiram à discussão nunca deixam de fazer, para se dispensarem de julgar, ou por temperamento que sempre me pareceu deslocado, é condenar os dois: lição importante, motivo urgente e indispensável para fugir a oriente quando o tolo está no ocidente, a fim de evitar dividir com ele o mesmo agravo."
Jean de La Bruyére, "Os Caracteres"

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

"Nada, novamente, de novo, que coordene esta constante insatisfação; corre selvagem, sinapsa indomável. Perco-me, às vezes, em momentos de total alienação, crio mundos e universos, constelando-me sem ninguém ver, vivendo, desta forma, sem ter que o fazer - Representando.
Como nos compreender se nada do que profusamente é pensado faz sentido?
Como não me cansar desta contumaz incoerência?"

Frank Green, "Diaporese"

"Nunca desejei senão
o que não podia imaginar,
nunca ansiei senão
um pouco de tudo.
Vivo em constante desejo!
Pudesse eu não ter limites,
para responder sim a todos aqueles convites!
Reconstruir o reconstruído,
recomeçando constantemente!"
Frank Green, "Diaporese"

"Toda a terra vibra nela, todo o universo se explica numa palavra final. A mais alta, a mais profunda. Mas não sou eu que a faço vibrar, é ela só que a si mesma se diz. Música áspera a minha, na dificuldade dos dedos, da arcada certa e nítida, outra música para lá dela se subtiliza ao meu ouvido até ao silêncio final onde se perde a aspereza da minha execução. Que palavra se diz neste dizer? não a sei. Sei apenas que esse silêncio se preenche de tudo o que não sei dizer nem sobretudo me apetece dizer. Como uma rede de sustivesse todas as impurezas, o fio da água passa e a sua pureza me comove e só ela me existe. Fecho a caixa do violino, fecho a janela. Desço de novo à sala, olho ainda a tarde que se apaga. E é como se eu próprio me evolasse com essa tarde e de mim ficasse o que útil e necessário me sustentasse o viver. Tudo tão pouco - que é que resta sempre de uma vida humana? Mesmo a dos heróis, dos grandes heróis da arte e do saber. Depositaram a grandeza que foi sua, o que lhes fica e o nada que os sustenta, a miséria de um corpo que se extingue. Toda a convulsão de uma vida, aguentada agora com uma breve ideia, um frágil apoio, o vazio de si. A vida realiza-se multiplicadamente com a realização de quem a realiza. Com esse nada ou esse tudo se colabora na sua diversificação. Estou só - estás só. Não penses. Não fales. És em ti apenas o máximo de ti. Qualquer coisa mais alta do que tu te assumiu e rejeitou como a árvore que se poda para crescer. Que te dá pensares-te o ramo que se suprimiu? A árvore existe e continua para fora da tua acidentalidade suprimida. O que te distingue e oprime é o pensamento que a pedra não tem para se executar como pedra. E as estrelas, e os animais. Funda aí a tua grandeza se quiseres, mas que reconheças e aceites a grandeza que te excede. Há uma palavra qualquer que deve poder dizer isso, não a sabes - e porque queres sabê-la? É a palavra que conhece o mistério e que o mistério conhece - não é tua. De ti é apenas o silêncio sem mais o eco de uma música em que ele se reabsorva. Pensa-o ardentemente, profundamente, absolutamente. " Vergílio Ferreira - para sempre


"As pessoas realmente frívolas são as que só amam uma vez na vida. O que elas chamam lealdade ou fidelidade, chamo eu letargia do hábito ou falta de imaginação. A fidelidade representa na vida emocional o mesmo que a coerência na vida do intelecto, apenas uma confissão de impotência. A fidelidade! Tenho de a analisar um destes dias. Está intimamente associada à paixão da propriedade. Há muitas coisas que atiraríamos fora se não receássemos que outros as apanhassem."

Oscar Wilde, in 'O Retrato de Dorian Gray'

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Beck

Joanna Newsom

Björk

Goldfrapp

Roisin Murphy

Telepopmusik

Moloko



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"Não te deixes seduzir pelo gosto da conversa fútil e improdutiva. Essa microscópica gente não merece a mais pequena atenção, nem tu precisas de espectadores para o salutar e cansativo exercício diário de falar por falar. Fala contigo mesmo, comunica com as paredes, com a estratosfera. Não deixes que metam o nariz na tua vida. Caso contrário, vais ficar cheio de gente, com a sua vida escassamente interessante, a tornar ainda mais milagreiros os acontecimentos criativos e realmente sentidos, como um todo pleno, que tens ocasionalmente, longe deles... E tenho a impressão de que, no essencial, a vida vulgar continua a mesma, mesmo calado. Desunha-te a escrever mas fá-lo com a discrição e a reserva de quem não se dá às primeiras. Conta a tua história à tua própria folha." Frank Green, "Diaporese"

"Sou um mero espectador da vida, que não tenta explicá-la. Não afirmo nem nego. Há muito que fujo de julgar os homens, e, a cada hora que passa, a vida me parece ou muito complicada e misteriosa ou muito simples e profunda. Não aprendo até morrer - desaprendo até morrer. Não sei nada, não sei nada, e saio deste mundo com a convicção de que não é a razão nem a verdade que nos guiam: só a paixão e a quimera nos levam a resoluções definitivas.O papel dos doidos é de primeira importância neste triste planeta, embora depois os outros tentem corrigi-lo e canalizá-lo... Também entendo que é tão difícil asseverar a exactidão dum facto como julgar um homem com justiça. Todos os dias mudamos de opinião. Todos os dias somos empurrados para léguas de distância por uma coisa frenética, que nos leva não sei para onde. Sucede sempre que, passados meses sobre o que escrevo - eu próprio duvido e hesito. Sinto que não me pertenço... É por isso que não condeno nem explico nada, e fujo até de descer dentro de mim próprio, para não reconhecer com espanto que sou absurdo - para não ter de discriminar até que ponto creio ou não creio, e de verificar o que me pertence e o que pertence aos mortos. De resto isto de ter opiniões não é fácil. Sempre que me dei a esse luxo, fui forçado a reconhecer que eram falsas ou erróneas."
Raul Brandão, " Se Tivesse de Recomeçar a Vida "

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Massive Attack

S.O.S.

Porque é que os Flintstons comemoravam o Natal, se eles viviam numa época antes de Cristo?
A interrogação é para dilatar a estupidez …Não é “Flinstons”, é “Flinstones”; William Anna e Joseph Barbera rebolam no túmulo. Há desenhos muito melhores. No máximo, terá sido na mesozóica que surgiram os primeiros mamíferos e por certo é na Cenozóica que vos fazem mentalmente refém. A única ligação que pode haver entre ambos é o local, lago turkana, ali pás Áfricas, onde dezenas de milhões de anos depois nós começámos a efectivar.
R: AINDA NÃO HOUVE HUMANOS NO CRETÁCIO, ISSO É ANTES DO NATAL, E OS FLINSTONES SÃO BONECOS PARA MIÚDOS CATÓLICOS.
Se as mulheres são todas iguais, porque é que os homens escolhem tanto?
Perspectiva errada. Estatisticamente falando, há 7 mulheres para cada homem, o que nos faz não escolher muito, mas sim ter muita escolha. Uma sociedade de excessos perde rapidamente a sua lógica. Porém as mulheres empreendedoras diz um amigo chamado Neider que fazia uns estudos estranhos, sendo “activas, persistentes, inclinadas a influenciar os outros e”, acrescentando,” a crer que seus destinos dependem mais dos seus actos do que do contexto ou da situação” podem saber sempre ser um desafio e ditar desta forma um Ipiranga à visão de consumível e descartável que numa sociedade contemporânea ainda tendem a manter.
R: AS MULHERES NÃO SÃO TODAS IGUAIS, INCLUINDO AS CATÓLICAS.
And thats hot.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Vaya con dios


O princípio da incerteza

Não há certeza numa zona onde ela, por natureza, inexiste. Os aspectos essenciais de uma partícula (posição, velocidade, energia...) nunca podem ser imediatamente observados com total precisão. O acto da observação, distorce pelo menos uma dessas características porque prende-se num momento estático e não acompanha o presente de todos os componentes.
Quando se quer comprovar algo cientificamente, o modo como os planetas giram à volta do Sol, a constituição das manchas, a razão das torneiras deitarem água, o facto de existir vento, é preciso visualizar sempre de forma abstracta. Só que, às vezes, o nosso olhar altera as coisas para as quais olhamos. Não é possível apurar a realidade do que aconteceu, ou o que teria acontecido se não tivéssemos visto nem por tal existe meio de medir com cirúrgica precisão as propriedades mais elementares do comportamento. Ou melhor, quanto mais precisamente se mede uma propriedade (o movimento de um eléctrão), menos precisamente se pode conhecer outra (a sua posição). Mais certeza de uma, mais incerteza de outra.
Quanto mais se observa, menos se vê.
"A minha pulsação bate a hora desta sala espaçada, cansando o ar inteiro duma melancolia rítmica e mecânica que flui com o fumo do cigarro numa espiral de névoa. Observo-a, disperso, espalhado como um líquido." Frank Green in "Diaporese"

Trentemøller

"Raro percebemos as partidas que a limitação da natalidade prega aos nossos argumentos. A minoria que consegue educar-se reduz o tamanho da família; a maioria sem tempo para se educar procria com abundância; quase todos os componentes das novas gerações provêm de famílias cujas rendas não permitiram a educação da prole. Daí a perpétua futilidade do liberalismo político; a propagação da inteligência não está em compasso com a propagação dos ignorantes. Daí ainda a decadência do protestantismo; uma religião, do mesmo modo que um povo, não vinga em consequência das guerras que vence, senão que dos filhos que gera."
Will Durant, "Filosofia da Vida"

domingo, 13 de janeiro de 2008


"Tento forçar o organismo à atenção que o despertar oferece abrindo a janela que desliza num leve sopro até ao canto oposto onde pára, resignada. O vento uiva à minha volta, transformando o meu extinto incêndio numa nuvem fugaz, algo que foi quase chuva. Preferia não pensar. Preferia esquecer. Pertenci sempre ao que não está aqui e ao que nunca pode ser. E numa ponta desta casa escura, cortada para o oceano entrar, de pé, vendo o horizonte a fundir céu e mar, a ouvir a onda, onde ninguém sabe que estou… estou só. Lá longe o ar rasga em luz, desenvolve vibração e tremo involuntariamente. Com o trovão a profanar a nuvem preta, parte de mim é exterior também, finalmente vocal. E sei que mesmo o raio, aquele incêndio de prata, tenta descobrir uma inalterável forma de ser sempre diferente, criando com a boa novidade que anseio, alguma distracção.
Tantas histórias... quantas perguntas!"
Frank Green in "Diaporese"
"Always have a book at hand, in the parlor, on the table, for the family; a book of condensed thought and striking anecdote, of sound maxims and truthful apothegms. It will impress on your own mind a thousand valuable suggestions, and teach your children a thousand lessons of truth and duty. Such a book is a casket of jewels for your housebold." Tryon Edwards

"!Momentos há abaixo de qualquer abatimento, abaixo de qualquer dor; ritmos ocos de um eco profundo, odores amanteigados de madeira e larva, de putrefacção. No meu crânio a mente solta-se, presa sem correntes. Penso naquele nada de novo, em monólogo, procurando uma opinião presente que simplifique todos os momentos, instantânea à solvência da pergunta, que me ajude a sobreviver nesta esquecida língua da galáxia. Aqui, quando todos se esquecem..."
Frank Green in "Diaporese"

Royksopp

?

Divine Comedy

sábado, 12 de janeiro de 2008

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008


"A onda larga, toda fúria, quebra a espinha na costa onde se parte e estilhaça – uma vaga de vidro enrolada, sem dono, desbrava com garra as vagas em retorno, que fervem espuma na margem deserta. Funda, profunda, secreta, sussurrante. O mar é o órgão que nos falta, um suspiro físico." Frank Green in "Diaporese"

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

"Nunca deixo saber aos meus sentimentos o que lhes vou fazer sentir... Brinco com as minhas sensações como uma princesa cheia de tédio com os seus grandes gatos prontos e cruéis...
Fecho subitamente portas dentro de mim, por onde certas sensações iam passar para se realizarem. Retiro bruscamente do seu caminho os objectos espirituais que lhes vão vincar gestos.
Pequenas frases sem sentido, metidas nas conversas que supomos estar tendo; afirmações absurdas feitas com cinzas de outras que já de si não significam nada...
- O seu olhar tem qualquer coisa de música tocada a bordo dum barco, no meio misterioso de um rio com florestas na margem oposta...
= Não diga que é fria uma noite de luar. Abomino as noites de luar... há quem costume realmente tocar música nas noites de luar...
- Isso também é possível... E lamentável, está claro... Mas o seu olhar tem realmente o desejo de ser saudoso de qualquer coisa... Falta-lhe o sentimento que exprime... Acho na falsidade da sua expressão uma quantidade de ilusões que tenho tido...
= Creia que sinto às vezes o que digo, e até, apesar de mulher, o que digo com o olhar...
- Não está sendo cruel para consigo própria? Nós sentimos realmente o que pensamos que estamos sentido? Esta nossa conversa, por exemplo, tem visos de realidade? Não tem. Num romance não seria admitida.
= Com muita razão... Eu não tenho a absoluta certeza de estar falando consigo, repare... Apesar de mulher, criei-me um dever de ser estampa de um livro de impressões de um desenhista doido... Tenho em mim detalhes exageradamente nítidos... Dá um pouco, não sei, a impressão de realidade excessiva e um pouco forçada... Acho que a única coisa digna de uma mulher contemporânea é este ideal de ser estampa. Quando eu era criança queria ser a rainha dum naipe qualquer dum baralho de cartas antigo que havia em minha casa... Achava esse mister de uma heráldica realmente compassiva... Mas quando se é criança, tem-se aspirações morais destas... Só depois, na idade em que as nossas aspirações são todas imorais, é que pensamos nisso a sério...
- Eu, como nunca falo a crianças, creio no instinto artistico delas... Sabe, enquanto estou falando, agora mesmo, eu estou querendo penetrar o íntimo sentido dessas coisas que estava dizendo... Perdoa-me?
= Não de todo... Nunca se deve devassar os sentimentos que os outros fingem que têm. São sempre demasiadamente íntimos... Acredite que me dói realmente estar-lhe fazendo estas confidências íntimas, que, se bem que todas elas falsas, representam verdadeiramente farrapos da minha pobre alma... No fundo, acredite, o que somos de mais doloroso é o que não somos realmente, e as nossas maiores tragédias passam-se na nossa ideia de nós.
- Isso é tão verdadeiro... Para que dizê-lo? Feriu-me. Para que tirar à nossa conversa a sua irrealidade constante? Assim é quase uma conversa possível, passada a uma mesa de chá, entre uma mulher linda e uma imaginador de sensações.
= Sim, sim... É a minha vez de pedir perdão... Mas olhe que eu estava distraída e não reparei realmente em que tinha dito uma coisa justa... Mude-mos de assunto... Que tarde que é sempre!... Não se torne a zangar... Olhe que esta minha frase não tem sentido absolutamente nenhum...
- Não me peça desculpas, não repare em que estamos falando... Toda a boa conversa deve ser um monólogo de dois... Devemos, no fim, não poder ter a certeza se conversámos realmente com alguém ou se imaginámos totalmente a conversa... As melhores e as mais íntimas conversas, e sobretudo as menos moralmente instrutivas, são aquelas que os romancistas têm entre duas personagens das suas novelas... Como exemplo...
= Por amor de Deus! Não ia decerto citar-me um exemplo... Isso só se faz nas gramáticas; não sei se recorda que até nunca as lemos.
- Leu alguma vez uma gramática?
= Eu nunca. Tive sempre uma aversão profunda a saber como se dizem as coisas... A minha única simpatica, nas gramáticas, ia para as excepções e para os pleonasmos... Escapar às regras e dizer coisas inúteis resume bem a atitude essencialmente moderna... Não é assim que se diz?...
- Absolutamente... O que tem de antipático nas gramáticas (já reparou na deliciosa impossibilidade de estarmos falando neste assunto?) - o que há de mais simpático nas gramáticas é o verbo, os verbos... São as palavras que dão sentido às frases... Uma frase honesta deve poder ter sempre vários sentidos... Os verbos!... Um amigo meu que se suicidou - cada vez que tenho uma conversa um pouco longa suicido um amigo - tinha tencionado dedicar toda a sua vida a destruir os verbos...
= Ele porque se suicidou?
- Espere, ainda não sei... Ele pretendia descobrir e fixar o modo de não completar frases sem parecer fazê-lo... Ele costumava dizer-me que procurava o micróbio da significação... Suicidou-se, é claro, porque um dia reparou na responsabilidade imensa que tomara sobre si... A importancia do problema deu-lhe cabo do cérebero... Um revólver e...
= Ah, não... Isso de modo algum... Não vê que não podia ser um revólver?... Um homem desses nunca dá um tiro na cabeça... O senhor pouco se entende com os amigos que nunca teve... É um defeito grande, sabe?... A minha melhor amiga - uma deliciosa rapaz que inventei ...
- Dão-se bem?
= Tanto quanto é possível... Mas essa rapariga, não imagina ...
As duas criaturas que estavam à mesa de chá não tiveram com certeza esta conversa. Mas estavam tão alinhadas e bem vestidas que era pena que não falassem assim... Por isso escrevi esta conversa para elas a terem tido... As suas atitudes, os seus pequenos gestos, as suas criancices de olhares e sorrisos nos momentos de conversa que abrem intervalos no sentimento de existirmos, disseram nitidamente o que fielmente finjo que reporto... Quando eles um dia forem ambos e sem dúvida casados cada um para seu lado - em intentos de mais juntos, para poderem casar um com o outro - , se eles por acaso olharem para estas páginas, acredito que reconhecerão o que nunca disseram e que não deixarão de me ser gratos por eu ter intrepertado tão bem, não só o que eles são realmente, mas o que eles nunca desejaram ser nem sabiam que eram."
Bernardo Soares in - o genial - Livro do Desassossego

"A beleza é uma forma de Génio... diria mesmo que é mais sublime do que o Génio por não precisar de qualquer explicação. É um dos grandes factos do mundo, como a luz do sol ou a Primavera, ou o reflexo nas escuras águas dessa concha de prata a que chamamos lua. É inquestionável. Tem um direito de soberania divino. Eleva os seus possuidores à categoria de príncipes. Está a sorrir ? Ah, quando a tiver perdido com certeza que não há-de sorrir... às vezes as pessoas dizem que a Beleza é apenas superficial, e pode bem ser. Mas pelo menos não é tão superficial como o Pensamento. Para mim, a Beleza é a maravilha das maravilhas. Só as pessoas frívolas é que não julgam pelas aparências.
O verdadeiro mistério do mundo é o visível e não o invisível..."
Oscar wilde, 1947-1900
"Se governar fosse fácil , não havia necessidade de espíritos tão esclarecidos como o do Führer. Se o operário soubesse usar a sua máquina e se o camponês soubesse distinguir um campo de uma forma para tortas, não haveria necessidade de patrões nem de proprietários. E só porque toda a gente é tão estúpida que há necessidade de alguns tão inteligentes.
... mas nada deve parecer impossível de mudar."
Bertold Brecht, 1898-1956

"Um intervalo entre não-ser e ser
Feito de eu ter lugar
Como o pó, que se vê o vento erguer,
Vive de ele o mostrar."

Fernando Pessoa 1888-1935

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Travel Trip


Nothing can come close to this familiar feeling:
- We say it all without... Ever speaking!