quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

"Não se encontram hoje na Europa dois povos genuìnamente fraternais - e nos países cujos interesses mais se entreligam, as almas permanecem separadas. O Alemão detesta o Russo. O Italiano abomina o Austríaco. O Dinamarquês execra o Alemão. E todos aborrecem o Inglês - que os despreza a todos. São estes antagonismos, irracionais e violentos, tanto ou mais que as rivalidades de Estado, que forçam as nações a essa rígida atitude armada em que elas se esterilizam e se enervam - e hoje, diferentemente dos tempos antigos, o amor e o cuidado da paz está nos reis, e nos povos o impulso para a guerra. Isto provèm de que o poder, ou a influência sobre o poder, passou das castas para as massas, das oligarquias para as democracias. Outrora as oligarquias, tornadas 'cosmopolitas' pela educação, pelas viagens, pelas alianças, pela comunidade de hábitos e de gostos, pela similitude dos deveres da corte, pela tolerância geral que dá a cultura e pelas especiais afinidades de espírito que criava a cultura clássica, não odiavam nunca as outras nações.(...)As democracias, ao contrário, profundamente nacionais e nunca cosmopolitas, conservando com tradicional fidelidade os seus costumes próprios, e intolerantes para os costumes alheios - apenas se conhecem ( através das noções estreitas de uma instrução fragmentária) nas suas feições mais nacionalmente características e portanto mais irreconciliàvelmente opostas."
Eça de Queiroz, in 'cartas e outros escritos'

Sem comentários: