sexta-feira, 11 de abril de 2008

'Penso melhor neste nada que criámos, verificado em alta: a lâmpada apagada pensada fundida e o barulho Ensurdecedor do nosso íntimo silêncio, deixado à solta. Repenso em como não pensar a seguir e assim penso nisso. Tanta coisa dada para tão pouco resultado enoja qualquer alma que pondere a sua crença. Mal te vi a minha vida foi tua: e todo este excesso põe-me acima de quaisquer suspeitas e faz-te merecer uma fidelidade que não é vulgar encontrar-se. As coisas são feitas de roubos, furtos caseiros não programados de pertences que sempre foram de alguém. Que queres que faça? Que é feito de ti? Estou tão longe de tudo quanto imaginei! Como posso suportar o teu mal, querendo-te mil vezes mais do que à minha existência e mais mil vezes do que imagino? Como conceber o exponencial inimaginável de não pensar nisto? Nada foi suficientemente mau, de nada me arrependo: prefiro presenciar-me nesta condição desolada, do que nunca te ter conhecido, prefiro conhecer da minha condição do que nunca a ter encontrado. Nem o criminoso mais voraz, mais doentio, disforme ou perturbado é merecedor dum castigo assim nesta escala dilacerante: leio quando dou pela prática, tudo se tornou abstracção. Mantenho-me opaco e nublado, visualizável mas não visível, por uma sensação de que desconheço a origem e, logicamente, a forma como a neutralizar.'
Frank Green, in 'Diaporese'

2 comentários:

The Walrus disse...

#%yg#"#"!! Caríssimo Antero, sem dúvida a melhor verbalização espiritual (odeio o termo texto) que já li tua!

tenho aprendido que a VIDA é quilo que acontece enquanto fazemos planos, enquanto nos afundamos em interrogações, bloqueados por colateralismos, enquanto sonhamos e aspiramos, empatando e desanimando, esperando e desesperando.

Isto leva-me a pensar que se calhar estamos a olhar para o lado errado, a caminhar pelo trilho já muito batido de ervas secas e pisadas, quando é no mato denso que está o pote.

darkside rules

marta disse...

Muito bom, Frankie!! Mesmo. (ensurdecedor começa com um "e" e não "i")

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