quarta-feira, 18 de junho de 2008

"O bom dia.
Intercala luz fria e sombra, a manhã desata-se. Não vale a pena pressentir ou conhecer porque todo o futuro é neblina e o amanhã sabe a hoje quando se entrevê. Cada dia é vários e encerra uma prolixidade especialmente matinal. Vive a sua poesia não no que foi mas no não ter nunca sido – as frases perdidas que se recordam no esquecimento dos passeios, nas visões de sol nascente. Não encontro um sentido tépido. Pelo mistério que à calada do breu passaram as melhores fantasias sem encarar qualquer luz, há razão de sobra para existirem territórios remotos, opacos, intermitentes também, onde nem nesse isolado orgulho tenho consolação, futilissimamente. O rastro de luz loura que se faz no largo rio abre-se em serpentes no mar, estala de brilho. O sol vinha de prodigiosas terras, vistas se sonhadas, sem remetentes postais. Reparo, como se começasse a despertar de um sonho não dormido, de uma sensação de sono, os primeiros ruídos do mundo: um nada com respiração por fora. Escrevo isto sobre uma opressão de um tédio e de uma desilusão que parecem não caber em mim ou de precisarem mais que da minha mente para terem onde estar. "
Frank Green in 'Diaporese'

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