quarta-feira, 10 de setembro de 2008

‘Pelo silêncio, gritos de nós mesmos se estranham, em especial, porque há zonas de silêncio onde poucos sons existem. Preenchidos ou não, menos me interessa: o fumo tem mais consistência em si que o próprio tempo, que este determinado silêncio. Penso conseguir ver o que me vejo pensar… e acho que isso nos basta. Da minha janela o sol dorme redondo sobre outro continente acordado e também isso me dá uma calma resignação. Este ‘agora’ que escrevo, estimo-o como um morto que se enterra. O Presente não vale nada, nele pouco há de sonhador. É um passado suspenso, um ontem que anda sempre connosco e que já foi, não vem, nem vai, não volta, nem fica. Qual a substancia que nos prende ao relógio? É ponderado dar o devido uso a esse ‘já’, que foi substituído por um outro que o irá, e está, agora, a ser também? Parece-me ser no incerto que, pelo menos, ainda, nada está limitado, definido, contornado, estatuído… aprisionado. O calor de um outro quente, a permanência do Presente em todos os meus passos – o futuro não é mais que uma criação para se manter o amanhã, uma mera probabilidade incontornável, uma possibilidade dentro de outras interrogações; algo que a reverter, resultaria numa total aniquilação entre ti e tu, mutuamente. Cabe na cabeça de alguém viver só do futuro ou sem ele? De um dia de amanhã que tarda tanto em chegar e do qual se pretende que demore? É dos planos imaginários que se vive, molestados no nosso presente, visitados quando os queremos, naquele passado. E quantos ontens não queríamos agora, a infectar tudo o que pensamos ser? E quantos amanhãs não desejamos, consignando a ideia de que o agora não é nada daquele futuro que já foi?’

Frank Green, in ‘D.’

3 comentários:

marta disse...

O Frankie anda a ler Vergílio Ferreira. A lot!! E tenho para mim que faz muito bem.

The Walrus disse...

Santos, José (1984 - )

narrativa abstrata q.b., imprimindo na escrita a amplitude interpretativa que as (outras) artes modernas reivindicam.

este texto está muito bom, parece-me que começas a aperceber-te que a margem de livre interpretaçao do leitor é finita. é notória uma maior concretização

The Walrus disse...

uma amiga minha com quem tava de férias comprou a Nova Gente(!).

Descobri então um universo fascinante. Ao que parece, de um lado estão ex-bb's, figurantes (sim actores são o miguel guilherme ou o zé pedro gomes) de telenovelas, modelos com uns anos a mais e velhas loiras e bronzeadas de pele esticada. Do outro, toda uma parafernália de sopeiras e cabeleireiras por aí fora.

Descobri que a Marta Pereira (uma sujeita que pode eventualmente corroborar a muy cruel 'Teoria do Sangue-Azul Das Gerações Passadas' ou 'Teoria da Hereditariedade do Gene Azul' - ainda em desenvolvimento - uma vez que possui cabelo frisado, penugem preta no antebraço, mãos e pés ossudos, feições de plebeia medieval - Viva a República e a igualdade de oportunidades!)...

Mas enfim, onde é que eu ia.. ah! A Marta Pereira parece que se separou agora do Matos (que se apresenta só assim, só Matos, sem primeiro nome), e este Matos, cara inchada de quem tomou esteróides e creatina até aos trinta e muitos, altura em que o coração deu sinal de cansaço e lá teve de deixar descair os peitorais, bronze labrego de ginásio que lhe propicia um ar pouco idóneo, rugas na testa, ar duro, cabelo preto espetado, camisa preta justa, um anel em cada polegar, ostentando no pulso um grande relógio quadrado e um fio de missangas (foda-se, mas onde é que nós estamos... 1996?!) ao pescoço, é empresário da noite. Diz que possui uma discoteca em lisboa, o In Seven, onde 'o cliente pode sempre encontrar caras conhecidas da televisão na noite, como a alexandra fernandes, simultaneamente rp do espaço, cinha jardim e joão malheiro.

salto a piada fácil, porque odeio o humor português (salve r.a.pereira e afins, o gel, e os deboches do unas e alvim)

Mas continuando, esta Marta Pereira entretanto começou andar com o Jimmy, cantor, cabelo loiro pintado na banheira, t-shirt de malha branca justa, o mesmo bronze pouco idóneo, a mesma testa grande e enrugada, o mesmo ar duro.
Tiveram um filho. Parece que durante a gravidez ela ainda tentou sacar umas verbas ao Matos, dizendo que o bebe era dele, mas o Matos não vai em cantigas.

Mas acusa-a agora, o Matos, anos volvidos, numa manchete ao mais puro estilo do tablóide: "Ela roubou-me o carro!". Parece que, aquando da separação, Marta levou o audi A4 que Matos lhe tinha oferecido. Matos ainda remata tristemente: "Ela revelou-se uma pessoa diferente do que qdo a conheci, so quer subir na vida". Mas a Nova Gente profere ainda, em jeito de conclusão, numa prosa melancólica mas provocante, que o empresário guarda uma certa dor, mas não "é dor de amor".

recomendo veentemente um mergulho neste universo. talvez começar pela foto do matos, aqui loiro e com uma amiga. (foi a unica que encontrei, mas tb n me apetecia procurar mais)

http://www.portugalnight.com/files/in%20seven%202007%2010%2021%20(86).jpg