terça-feira, 30 de dezembro de 2008

With a (very,very very) little l

Detesto as grandes frases. São do tempo da conquista e da mistificação, do tempo das fanfarras da História, e para quem está na valeta do crescimento, entre a prega dos óculos e a História criada, pela frase gorda passa a significação, como a ultrapassagem numa estrada aberta. Além do que o seu objectivo é, essencialmente, apenas o esgotar-se. Vigarice. Em nada nos enriquecem, gastam-nos de gatas, pela monocórdica sequência de letra, o pecúlio acumulado na surdina da minúscula. Acho também que quando se faz uma frase grande, faz-se sempre outra coisa. Com raridade se é o que se quer ser... ou mesmo se faz o que se fez. Gosto de pequenas frases e de frases pequenas que se substanciem num instantâneo fotográfico, na minha comoção. Coisas como " Estoira e se imobiliza num enrameado de coral " são palavras da arquitectura que não dizendo onda me cheiram a sal. Quem consegue ler Saramago desconhece por inteiro o que pretendo exprimir. Não se descobre a sua escrita; é detectada. Conquistas feitas à força, numa atitude medida. É-me evidente que não teve cauterização de prodígialidade quando lhe findou a moleirinha, creio que qualquer biografia o pode comprovar. A Palavra lhe surgiu por teima o que resultou num vácuo abismal para preencher de naturalidade e de talento. É a conclusão de que trabalho dedicadamente excessivo aniquila a personalidade. Mais: todos os livrinhos que tem vindo a rabiscar, e os 2 que consegui terminar, parecem-me estórias de uma Espanha profunda, como aqueles sacrilégios populares da remota aldeia que insinuam a moralidade devida, a corresponder. Tudo com uma aura muito demagógica, bêbeda do pretensiosismo que lhe falha. Um conformado que vai para debaixo da pedra… Tem esporadicamente aquele colapso do chão, aquele toque de Midas que apenas a idade o consegue justificar, coisas que provavelmente leu, releu, tentou mudar, a Pilar mudou, ele tentou escrever, ela o escreveu, e o assinou, ele. É vazio da soberania de Vergílio Ferreira e por isso oco na dignidade de José Cardoso Pires forma pela qual, quem sabe, conseguiria carpir o 'ensaio sobre a lucidez' mas bem escrito, com genialidade.

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