"Aqui, entre este segundo ser já esse outro, é o que me deve ocupar os dias.
Quantos antes de mim existiram, foram sendo, fizeram-se ver, tomaram a inexistência dos outros, alcançaram essa ideia, lutaram contra Ela, e A formataram na aceitação da partida, do meu idêntico destino? Conforma. A tua vida é não mais do que a ideia que o mundo transporta, a tua consciencialização, a tua confirmação cardíaca aos olhos vivos do ser que respira. É na absoluta ausência de ti mesmo em nós próprio que se mata: a memória tatua a pessoa que ao espalmar dessa tecla escuta a surdina da nossa incomensurável saudade, sempre em ecoo, e te vem ver.
O Fim é conceito eterno e inconcretizável na palavra que o restringe. O que dá a força para entender-te a querer entendê-La senão esse teu limite de exibição?
Na total desqualificação de todos os meus passos, totalidade das opções que tomo, a incapacidade de A controlar absorve a ocasião que faço inimaginável. Essa ideia inteira a que te propões, a que nasceu no centro do teu pensar, onde em ti próprio a reivindicaste como ser-se tu, o Futuro a minudência, a modifica para um relativo Passado, banalizado, a torna, como tu, mortal e esquecida. És exclusivo das tuas acções e jamais da tua intenção.
- Apenas morre quem se condiciona a si.
Do teu mundo estarás tu, no outo por ti mesmo, na fronteira ou limbo onde pensas (tendo sorte) em tudo o que de bom se produziu, em tudo o que de mau se realizou; naqueles dias, naqueles outros; sobre o exacto momento que apenas tu sabes do que eu falo, o interno da ponta dum cone; sobre a oportunidade saboreada pela provocação dos outros, as especiarias deste fugaz e baço privilégio que é Ser, os temperos da refeição que nos consome.
A tua Morte não será tema de livro, nem um paradoxo. Não será heróica e epopeica como intimamente desejas. Não vai ser naquele momento, nem naquela hora. Não estarei rodeado de filhos, os tais orgulhos da posteridade, de dúzia de netos a correr pela relva fresca, com a mulher ideal, divina, sentados no jardim da minha casa de campo. Nem morrerei pelo sono. A imagem de um final certo é indomesticável no conhecimento desses pontos: o Quando e o Como. Não vou saber Dela - não o deves querer fazer - nem para tal deveria ser possível o supô-La; deveria ser-me incapacidade, como a aptidão para o voo, ou para respirar debaixo de água com independência. O espelhado distante dessa pontuação irrealista é moldável para a ambição, e apenas, de perceber o luxo, a noção do colossal privilégio, de compromisso abismal, exclusivo para comigo, que tem o acto da escrever, o fazer rir, as preguiças em concretizar, o beber água ou vinho, do sentir frio ou muito frio, a constipação com ranho, o tocar no cabelo, o verde, o azul ou o vidro. O único sentido útil para quem A representa com a antecedência de todo o ser-se humano e vivo, consubstancia-se pelo horizonte do agora: a Morte é-me inconcretizável enquanto tiver pulsação. Existisse apenas na medida do que penso…"
Quantos antes de mim existiram, foram sendo, fizeram-se ver, tomaram a inexistência dos outros, alcançaram essa ideia, lutaram contra Ela, e A formataram na aceitação da partida, do meu idêntico destino? Conforma. A tua vida é não mais do que a ideia que o mundo transporta, a tua consciencialização, a tua confirmação cardíaca aos olhos vivos do ser que respira. É na absoluta ausência de ti mesmo em nós próprio que se mata: a memória tatua a pessoa que ao espalmar dessa tecla escuta a surdina da nossa incomensurável saudade, sempre em ecoo, e te vem ver.
O Fim é conceito eterno e inconcretizável na palavra que o restringe. O que dá a força para entender-te a querer entendê-La senão esse teu limite de exibição?
Na total desqualificação de todos os meus passos, totalidade das opções que tomo, a incapacidade de A controlar absorve a ocasião que faço inimaginável. Essa ideia inteira a que te propões, a que nasceu no centro do teu pensar, onde em ti próprio a reivindicaste como ser-se tu, o Futuro a minudência, a modifica para um relativo Passado, banalizado, a torna, como tu, mortal e esquecida. És exclusivo das tuas acções e jamais da tua intenção.
- Apenas morre quem se condiciona a si.
Do teu mundo estarás tu, no outo por ti mesmo, na fronteira ou limbo onde pensas (tendo sorte) em tudo o que de bom se produziu, em tudo o que de mau se realizou; naqueles dias, naqueles outros; sobre o exacto momento que apenas tu sabes do que eu falo, o interno da ponta dum cone; sobre a oportunidade saboreada pela provocação dos outros, as especiarias deste fugaz e baço privilégio que é Ser, os temperos da refeição que nos consome.
A tua Morte não será tema de livro, nem um paradoxo. Não será heróica e epopeica como intimamente desejas. Não vai ser naquele momento, nem naquela hora. Não estarei rodeado de filhos, os tais orgulhos da posteridade, de dúzia de netos a correr pela relva fresca, com a mulher ideal, divina, sentados no jardim da minha casa de campo. Nem morrerei pelo sono. A imagem de um final certo é indomesticável no conhecimento desses pontos: o Quando e o Como. Não vou saber Dela - não o deves querer fazer - nem para tal deveria ser possível o supô-La; deveria ser-me incapacidade, como a aptidão para o voo, ou para respirar debaixo de água com independência. O espelhado distante dessa pontuação irrealista é moldável para a ambição, e apenas, de perceber o luxo, a noção do colossal privilégio, de compromisso abismal, exclusivo para comigo, que tem o acto da escrever, o fazer rir, as preguiças em concretizar, o beber água ou vinho, do sentir frio ou muito frio, a constipação com ranho, o tocar no cabelo, o verde, o azul ou o vidro. O único sentido útil para quem A representa com a antecedência de todo o ser-se humano e vivo, consubstancia-se pelo horizonte do agora: a Morte é-me inconcretizável enquanto tiver pulsação. Existisse apenas na medida do que penso…"
Frank Green in 'Diaporese'
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