quarta-feira, 12 de maio de 2010

'Há a caminho um outro caminho, que é direito e que termina num quadrado, que percorro, mas que o não faço. Longínquo, no fundo do espaço, sobrevoo a geometria que inexiste com precisão, e dele salto, andando por completo descalço sob a calçada fria e fosforescente. Aqui sonha-se a distância do cosmos numa constatação imediata de um conceito impossível e as ideias são plumas ou leves detalhes das asas com que viajo. Sou o Ser que não fomos nunca, ou queremos, ou queriamos, ou que deveria ter desejado, ou desejo, ou não desejei jamais. Alargando o vazio entre cada ideia ramificada, há vento que limpa a copa do que vou pensando - sei que é sorte. Na recta, crente da permissão que propulsiona, ando convictamente volúvel, o que é já uma certeza, e torno-me sempre num outro quando não olho para o chão, o que me confunde imenso. Quando caminho deixa de haver um outro caminho, e é sempre o mesmo passeio ondulado que termina comigo a faze-lo e a disseminar-me num detalhe de neutrão.'
Frank Green in Diaporese

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