domingo, 13 de janeiro de 2008


"Tento forçar o organismo à atenção que o despertar oferece abrindo a janela que desliza num leve sopro até ao canto oposto onde pára, resignada. O vento uiva à minha volta, transformando o meu extinto incêndio numa nuvem fugaz, algo que foi quase chuva. Preferia não pensar. Preferia esquecer. Pertenci sempre ao que não está aqui e ao que nunca pode ser. E numa ponta desta casa escura, cortada para o oceano entrar, de pé, vendo o horizonte a fundir céu e mar, a ouvir a onda, onde ninguém sabe que estou… estou só. Lá longe o ar rasga em luz, desenvolve vibração e tremo involuntariamente. Com o trovão a profanar a nuvem preta, parte de mim é exterior também, finalmente vocal. E sei que mesmo o raio, aquele incêndio de prata, tenta descobrir uma inalterável forma de ser sempre diferente, criando com a boa novidade que anseio, alguma distracção.
Tantas histórias... quantas perguntas!"
Frank Green in "Diaporese"

1 comentário:

marta disse...

"RELÂMPAGO

Rasguei-me como um raio rasga o céu.
Iluminei-me todo de repente.
Negrura permanente
De noite enfeitiçada,
Quis ver-me com pupilas de vidente,
E arrombei os portões à madrugada."

Miguel Torga